Sangue

O sol não aparece e segue uma escuridão sobre o meu ser, andante pelos becos lotados, o fone nos ouvidos e lábios cantantes sem som seguem o caminho que parece distante mas o futuro se encontra ali.

Não sinto medo de agulhas e muito menos de ver a própria veia sendo mutilada, mas o final de tudo isso pode assustar todo o meu ser o resto da eternidade, o que dizer para as pessoas e como explicar que não foi tão complexo quanto elas pensam?

Na sala de espera minha ficha foi feita, o registro aparece que estive ali, eles sabem da minha vida, minhas escolhas e minha intimidade, contam sobre o perigo, assustam e arrepia cada parte de mim e uma lágrima parece está pronta para descer.

São minutos, são horas, parecem séculos, são metade de vidas, a angústia cortante, o seco da garganta, algo cresce no meu pulmão e quero arranca-lo de mim, as costas cria uma corcunda e o peso vai aumentando, e tudo que eu quero fazer é chorar mas nada acontece.

Ela disse que eu vou ficar bem, minha melhor amiga disse que eu irei ficar bem, quem eu queria que se preocupasse não deu a mínima pra mim e eu desabo sozinho sobre esse mar de dúvidas, e cabe a mim encara-lo.

Meu nome é dito, a sala está pronta para me receber, dois frascos de líquido escuro é colocado em jogo e pedem para eu virar o rosto, mas me encanto com a beleza da medicina, o saltar de um sofrimento e a ansiedade de respostas, tudo está feito e me resta esperar novamente.

Uma pessoa é vista triste no canto, outra saiu as pressas do local, o dia não está cinza e nem claro, não sei distinguir o que eu fiz de bom e errado, a costela quase arrancada do peito salta ao ouvir novamente o meu nome e eu sei que é esta hora.

Existe poucas possibilidades de você acordar amanhã, como tomar um tiro de bala perdida, o fogão explodir em seu rosto ou pegar uma doença fatal, mas entre essa onda de dor existe o portal para você acordar e ver que a vida está passando diante dos seus olhos e você teve outra chance de vive-la da forma certa, devo reagir? Não reagente.