Tempestade forte.

A felicidade era uma vizinha da grama ávida e verde. Ela estava sempre sendo regada, com o esplendor de uma manhã ensolarada ao cantar dos pássaros. Parecia contagiar as pessoas, e todos a sentiam. Ela parecia fácil para os outros. Fulano conseguia a tocar. Beltrano a sentia fervorosamente.

Mas a felicidade não me pertencia. Ela brincava comigo. Seu esplendor era como uma maquiagem para mim, tal como uma fruta cuja casca é verde seu interior é podre. Ela tinha repulsa a mim. Eu não fazia parte dos demais, não compartilhava o mesmo berço que eles. Suas árvores tinham raízes fortes. As minhas mal cresceram.

Eu desafiei a felicidade ao tentar. E colho as consequências até hoje. Eu, fruta da casca esverdeada, já sinto a podridão interna se sobressaindo ante minha casca. A felicidade tem se mostrado ao que (não) veio. E eu colhido as consequências.

Sinto-me em um penhasco íngreme e rachado. Antes, contava com algumas gotas d'água emprestada que regavam minhas raízes. Hoje, não cai nenhuma gota. A felicidade tá puta comigo. Eu ouso. Eu ouso pensar que às vezes ela pode ser minha. Eu tento. Ela não quer isso. Ela já mostrou qual é meu lugar.

Mas eu tento. Enquanto tiver forças. Enquanto essa bolha de vidro quebradiços aguentarem a chuva.

Tempestade forte.