Janeiro
O calendário diz que estamos no verão, no entanto, o céu cinza e o vento gélido lembram o outono, as propagandas mostram o verão como algo extraordinário, pessoas felizes, sol, piscina, praia. Não sei, da janela do meu quarto as coisas parecem iguais, solitárias como sempre foram.
As ruas estão cheias, os bares, os hospitais, os bancos, os restaurantes, lá fora a vida ferve como sempre, mas pra mim parece que tudo está morto. Fico pensando em todas as pessoas que verei caso resolva sair, quantas delas estarão de fato felizes? É engraçado como a gente segue a vida quase que no modo automático, passamos uma vida inteira vivendo de forma praticamente mecânica e por isso nunca sabemos o que as pessoas ao nosso redor sentem. Imagino que ninguém saiba que, assim como o clima, meu coração está gelado, tudo dentro de mim parece estagnado, como se o tempo tivesse parado apenas pra mim numa espécie de inferno frio, afinal todos parecem estar seguindo suas vidas.
Olhando cada livro da minha estante eu imagino o que cada autor poderia estar sentindo enquanto escrevia cada capitulo, será que, assim como eu, eles tinham lágrimas caindo sobre o papel? Talvez não, talvez seja mais fácil escrever sobre outro alguém do que sobre si mesmo. Cada vez que eu paro para refletir a respeito da vida menos esperanças eu tenho. Queria que as lágrimas levassem toda a dor e sofrimento que sinto hoje.
Enfim, apesar do clima propício para um dia embaixo das cobertas, hoje é só mais um dia como todos os outros, e assim como milhares de pessoas eu deveria me arrumar e ir para o trabalho. Mas hoje eu não tenho vontade de sair e encarar o mundo como ele é, ver a vida passando como ela está faz com que eu me sinta pior, viver como um robô torna quase que impossível a perspectiva de felicidade e pra mim ela nunca existiu.
Encarando todas as possibilidades de ações que poderia tomar eu penso que poderia acabar logo com toda a melancolia, aliás, do que adianta sofrer anos e anos? Por outro, penso que talvez um dia as coisas mudem. Poderia isso ser real considerando que nós mesmos nunca mudamos? Será possível ver algum tipo de progresso enquanto vivemos de forma sistematizada? Afinal, em que momento um novo rumo poderia ser tomado e toda a situação revertida? Pois é, meu ceticismo me diz que isso seria praticamente um milagre, e milagres não existem. No entanto, a dor e a coragem não são equivalentes essa manhã, apesar do meu desejo por paz, e uma mente que me atormenta, eu não me sinto capaz de desistir completamente, talvez amanhã, talvez depois. Um dia.