Semblante
Era meia-noite do primeiro dia de ano novo, ela via nas redes sociais pessoas que pareciam felizes, todas sorridentes, de roupas brancas e aquela escrita “Happy New Year”! Ao parar e olhar o homem ao seu redor, o via triste.
Sim, a casa estava vazia, apenas portas-retratos empoeirados. Mas todos sem fotos. Eu olhava para aquelas molduras e para o semblante daquele senhor. Ficava imaginando as fotos que poderiam constar ali. Como a de um casamento, da lua de mel, daquele dia do churrasco com os amigos, e da mocinha aprendendo a tocar violão? Ahhh, e do nascimento dos bebês, quem lembra? Sim, eram gêmeos, alegres e carequinhas. Por que não colocar na parede, a foto do primeiro dia em que eles foram para a escola? Aquele, em que a mamãe chorou até não querer mais? E quando o papai o levou para o jogo de futebol? Por que não colocar também o primeiro sorriso dos banguelinhas? Pois, quando o primeiro dente de leite cai, a gente nunca esquece né? E a foto da família no natal, com a presença dos avôs, tios e primos? E cadê aquela, do cachorro adorável? Era tão manso né? E da galera na praia? E a foto do pai já barrigudo e careca, e a mãe de cabelos brancos? E os garotões namorando? É talvez sejam muitas fotos para emoldurar. Quiça estejam guardadas em um lugar seguro para não empoeirar, pensei eu. Retornei o meu olhar àquele senhor que ao mesmo tempo que parecia triste, estava pensativo. Teria acontecido algo? Estava refletindo sobre o ano que passou? Ou faria pedidos para o novo ano? Eu não podia saber. A única coisa que podia ter certeza é que este foi o homem que vi no primeiro dia do ano. E não pude constatar alegria. Quem sabe essa coisa de felicidade está moldurada apenas nas redes sociais? Assim tirei uma selfie com aquele senhor e postei: feliz 2018!