MEU PRIMEIRO AMOR

Meu primeiro amor tinha requintes de crueldade.

Não tinha forma.

Não tinha cor.

Mas parecia uma fumaça vinda de máquina a vapor.

Parecia que era minha ingenuidade materializada num belo sorriso.

Meu primeiro amor tinha um belo sorriso.

E sorria para mim como se todo dia fosse domingo.

Eu sempre relacionei felicidade à praia. À montanha. Ao desejo de armar uma barraca numa areia branca.

E domingo era o dia disso.

Era dia de sorrir.

Domingo eu sempre pensava nela antes de dormir.

Meu primeiro amor gostava de dançar.

E numa dessas danças me deixou.

Me trocou talvez por uma beleza que em mim nunca achou.

Me trocou pela vontade de ser livre, mesmo que por algumas horas.

Como ainda são doloridas essas memórias.

Meu primeiro amor não sabia de mim.

Nem comigo sonhou.

Não acreditava que enfim alguém lhe guardava amor.

Mas quantos igual a eu existiam?

3...5...

Inúmeros.

Quantos corações aquela mulher conquistou?

Eu sabia de uns.

Desconfiava de outros.

Mas entendi que era só eu.

Era talvez o mais frouxo.

E mais covarde.

Do meu amor nunca ninguem soube de verdade.

Nem ela.

Só ela.

Principalmente ela.

Gostaria que fosse ela.

Meu primeiro amor arranjou outro amor.

Um que vai levar consigo para sempre.

Um que a deixou contente, mesmo que o início tenha sido de repente.

E como eu quis vê-la feliz, mesmo longe de mim.

Sem um amor toda história poderia ter um fim, mas essa eu havia entendido que só começou.

Um dia iria acontecer.

Mesmo que fosse para dizer;

"Há tanto tempo atrás eu amei você"

Meu primeiro amor sempre será o primeiro.

Sempre será o que não aconteceu.

Sempre será o sentimento verdadeiro que dentro de mim se escondeu.

Mas quando a vejo por aí, ainda sinto que algo diferente meu primeiro amor me concedeu.

Quem sabe um dia ela possa seu meu último amor.