PRECONCEITO COMPORTAMENTAL
Enquanto existir algo que não conheço plenamente, o preconceito é uma possibilidade...
Preconceito é uma (talvez a) palavra mais presente nos discursos sobre comportamento e educação no momento atual. Todos sabem e entendem alguma coisa sobre o preconceito. Em muitos contextos facilmente, e sem critérios, tudo se transforma, e tudo é preconceito.
Gosto do enunciado ‘todos são preconceituosos’. Penso que somos mesmo e, no momento epistêmico pelo qual transito, acredito que o preconceito sempre existiu e sempre existirá. Considero ainda possível de ser ponderado que ele é um desses componentes necessários para a realização do processo dialético do ser humano. A nossa identidade só é possível comparando-a com o que não nos identifica.
O substantivo preconceito adquiriu nos últimos anos muitos adjetivos. Pode ser qualificado, por exemplo, de racial, sexual, religioso; pode diluir-se e agregar poder de superioridade ou de exploração como machismo, feminismo, branquismo, nacionalismo, entre muitos outros elementos que modificam, reforçam ou empoderam conceitos ou enunciados.
Outra situação que me é cara é como é fácil, banal e comum encontrar defesas sobre o preconceito de forma inadequada nas diferentes esferas sociais. Para muitos ‘não gostar’ já constitui preconceito; não simpatizar... igualmente se torna preconceito. Por este viés, somos, ainda mais, todos preconceituosos; cada um e uma a sua maneira. Não gosto de certas ‘coisas’ e não simpatizo com alguns tipos e comportamentos. Meu grau de preconceito, então, não tem limites.
Neste sentido, gosto de pensar que, de forma geral, existem duas formas de refletir sobre o preconceito: a manifesta e a velada. A forma manifesta é aquela que denomino de ‘preconceito comportamental’ em que o comportamento do sujeito constitui-se o próprio preconceito. A velada é, ao contrário, própria do sujeito que se sabe não simpatizar, nem validar e muito menos aprovar algumas situações e comportamentos sociais, mas que nunca se pronuncia sobre, para não constranger e criar situações que se opõe ao ‘politicamente correto’. Para mim, a maioria situa-se nesta segunda categoria.
Se todos são, de fato, preconceituosos, o comportamento em relação a este fato torna-se, então, o problema, de fato. Não vejo nenhuma dificuldade em não gostar de alguns comportamentos que me são estranhos, de relações que não me satisfazem (mesmo as conhecendo e estudando) desde que estas situações não se transformem em comportamentos agressivos, intolerantes, em atos de violência expressa. O que incomoda não é o fato de não gostar e não se permitir a todos os diversos tipos de relacionamentos e situações que a diversidade propõe e sim tornar-se agressivo e intolerante em relação a essas situações que me são estranhas, mas que para outros não o são.
Esta visão sobre o preconceito (comportamental), ou seja, o comportamento agressivo, violento e intolerante, na minha forma de pensar, deveria receber maior ênfase para esclarecer, informar e educar. Sempre seremos preconceituosos em relação a diferentes situações, comportamentos e relações. O que não se deseja que esta forma de perceber e sentir transforme-se em violência de qualquer gênero. O convívio permite espaços e relações de todas as formas e cores. A diversidade é natural e sadia, mesmo que muitas vezes não a percebemos desta forma.
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