O QUE SER TRADICIONAL?

Tradicionalidade.

Estamos em tempos que problematizar tudo (e todos) tornou-se algo comum, banal, presente no nosso entorno, tradicional. Sempre foi possível fazer isso. Pensar e refletir de forma dialética foi importante em qualquer tempo. A diferença que atualmente tornou-se importante e bonito problematizar.

Tudo pode ser problematizado, nada mais é do que pensar sobre os fatos e as situações de forma crítica, isto é, perguntar por que as ‘coisas e situações’ são da forma como são e se poderiam ser diferentes. Desses pensares sobre a realidade podem surgir ideias, significados e conceitos novos ou alternativos. Estas mudanças geram, então, novos sentidos que se dinamizam nas diversas esferas da vida em relação ao que anteriormente era identificado como mais ou menos estável. Um exemplo é a tradicionalidade.

Nesse sentido, de forma sucinta quero pensar sobre ‘O que é tradicional?’ a partir de uma perspectiva aberta, ou seja, incipiente – partindo de leituras e percepções acessadas tentando encontrar outras ancoragens que me permitem avançar.

Para mim, tradicional não é só o que é diferente, mas é antes o que é comum, o que eu vivo como regular, normal no meu contexto. É o meu ‘mundo’, o meu cotidiano que me informa o que é tradicional. Assim, – tentando exemplificar – quem nasce em uma família heterossexual e convive com esse ‘modelo’ no seu dia a dia internaliza a percepção de que isso é normal (tradicional) no tipo de comportamento e relação. Quando se faz a comparação e tenta-se julgar (opor-se relacional e atitudinalmente) uma relação que não tem estas características nasce a diferença. E, opondo-se radicalmente de modo comportamental ao outro, isto é, invalidando o modo de ser do outro, engendra-se o preconceito comportamental.

Tentando mais um exemplo. Do mesmo modo que o ambiente heterossexual produz uma tradicionalidade, o ambiente homoafetivo igualmente gera aspectos que naquele espaço são tradicionais. A criança que cresce, recebe educação e se torna um adulto em ambientes articulados por dois pais ou duas mães e que no seu cotidiano convive mais com esse modelo, tende considerar que isso é o normal, o regular, o comum, o tradicional.

Tradicional é, então, aquilo que me serve de referencial para me situar em um espaço, em um contexto, em uma cultura. Que me valida e me identifica com o conjunto de elementos definidores desta realidade diante de outros contextos. Nesse sentido, tradicional não é somente o conservador, o antigo, o que se considera como ‘verdadeiro’, moral e ético dentro de uma perspectiva. Tradicional é o que se instala como um jeito, uma maneira, uma forma – já que paradigma não se ajusta mais – de viver dentro de uma realidade humana situada, cultural. Existem, nessa maneira de interpretar, tradições. E são tantas quanto são os grupos que expressam características próprias. Cada um com a sua tradição.

Quando o outro contexto, com outras características entra em choque com o meu, inicia-se, em primeiro plano, uma reação aversiva – de não gostar, não simpatizar –, e em segundo momento, o preconceito comportamental – que se traduz em não respeitar o outro.

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