Memento Mori
De todos os tempos, o que me apavora não é o passado e sua voz inexorável, reverberando por tudo, a todo instante. Não é o futuro incerto, insalubre, fértil e fugaz, que se descortina na velocidade do próprio 'agora'. Tampouco o presente, fenomenologicamente comprimido pelas forças pasteurizantes da linha do tempo.
O que enerva meus neurônios, retesa minhas fibras, comprime minhas têmporas e pupilas, seca minha garganta e me persegue tal qual algoz implacável é o futuro do pretérito.
O maldito tempo dos filósofos. Daqueles diabos que perscrutam as fendas da realidade; Dos que vasculham pelas frestas da narrativa de nossas vidas sub specie eternitatis.
A evocação desta força semântica, dilacera o nexo cronológico. Distorce e estilhaça nossas lembranças e espalha vãs esperanças por todas oscilações causais de nossa memória.
Este veneno hermético transmuta nossa vida em milhões, nos obrigando a nascer, sorrir, amar, chorar, perder e morrer em todas elas...
Num infinito continuum memento mori.