A ARTE DE SE DESPEDIR...
Nunca fui bom em despedidas. Sempre tive dificuldades em efetivar essa saudação. As pessoas partiam e eu as via indo com um desejo de tantas coisas boas para dizer, mas não falava nada...
Quem me tinha por perto, enquanto criança, dizia: “Fala alguma coisa, menino! Vai! É a hora! Não vai ter outra chance! Esse menino é estranho! Não fala nada! As pessoas indo embora e ele calado... Quando crescer, esse menino vai ser mudo!”
De tanto ouvir e não falar passei a achar que, quem partia já tinha as palavras que eu devia ter dito... Elas mesmas pensavam sobre isso e já as sentiam como verdadeiras. O que eu dissesse não faria importância... Em todas as oportunidades de me despedir, quem partia de mim, cumpria seu papel e eu apenas fazia a minha parte de ficar, ou de apenas ter sido.
Nunca entendi o sentido de minha entrega numa bagagem como palavras ou sentimentos...
Certa vez, uma querida brincou comigo e me disse: Estou indo e, se não quiser expressar seus sentimentos ao se despedir, basta me dizer tchau que eu ficarei feliz... E continuou dizendo que só sairia dali se eu lhe dissesse qualquer coisa. Eu achei aquela atitude estranha, mas engraçada. Então, passei a conversar enquanto ela não ia... Demorei tanto falando que ela se cansou e disse que seria bem melhor eu apenas ter dito um “tchau”.
Depois desse dia, a cada um que eu sabia que, um dia, despedir-se-ia de mim, eu acabava falando cada vez mais... A cada sinal ou gesto corporal que parecesse de saída eu explicava demais, reforçava mais, cada vírgula, cada pausa... Eu aprendi a objetivar ser melhor entendido, para que o “tchau” fosse, verdadeiramente, um “tchau”, mas antes de tudo acontecer, era eu quem ouvia um “tchau”, um aceno, um gesto de mãos, um beijo ou até mesmo um afastar.
Nessa insistência de tanto falar, acabava não lembrando de tudo que havia dito, e quando me diziam: “um dia você já falou isso!” Ou “Você falou aquilo!” e eu não lembrava, perguntavam se estava maluco, ou se eu estava doido, achavam até que eu mentia... Como não lembrar do que se fala? Eu, realmente, falava muito! Mas, eu só lembrava de me preparar para um dia saber chegar com qualidades no “tchau”.
Eu tinha aprendido que o importante seria, em cada momento, enfatizar as coisas boas, demonstrar o que eu sentia de melhor, e, em qualquer percepção de mal entendido, eu reforçar e me preparar para oferecer o melhor “tchau” do mundo. Talvez, se eu tivesse aprendido que devia lembrar de todas as palavras, fosse bem melhor do que ter vivido a longa construção do “tchau”
Nunca aprendi sobre despedidas, e só o tempo faz ensinar... A percepção sobre as coisas de partir, sempre serão maiores do que as de ficar. Quem vai, vai por algum motivo... A arte de ficar, realmente, tem seus enganos... E por mais que você possa falar, quando não se sabe como deve ficar, qualquer palavra esquecida é um bom motivo para saber partir...
Hoje descobri que ser criança era aliviador.