O que é preciso?
Você precisa mesmo passar 15 anos na escola e outros tantos em algum cursinho superior para entender como a vida funciona? Precisa mesmo de diplomas, barba rala, garoto, seios fartos, garota, dentes brancos, discurso pomposo, passado difícil e referências bibliográficas para se dizer vitorioso? Você precisa mesmo desses olhos de falcão cujo propósito estético camufla sua solidão densa? Precisa, seu chato, de uma religião antiga, uma idéia nova, uma música rasa, uma estrela de TV, uma paisagem, um alucinógeno sob medida, um pouco de atenção - você não quer pular -, uma revolução, uma revolução armada, um herói satirizado, um amor de marionete para se curvar e provar que SIM, está vivendo a vida, está existindo? Precisa, maestro da independência, controlar a respiração, selecionar bem as palavras, exterminar cravos e espinhas, tratar o cabelo, encolher a consciência subconscientemente, vestir-se como um bobo e outras armas da engenharia social para enterrar amigos em troca de números?
Você precisa mesmo escolher um lado? Você precisa mesmo ser aceito? Precisa de cinco dígitos no salário e de um escritório com ar condicionado, de uma Casa Transformers, um carro de dez milhões de Pégasus de potência para provar o quanto você é humano? Você precisa mesmo garantir sua réplica, sua retórica estérica relacionada a sua intimidade narcisista? Você precisa, precisa mesmo subir ao topo da montanha e sentir o aroma da infância, de sua mãe, do amor recíproco, da inocência para ter de aceitar que jamais voltará para casa?
Por favor, volte a ser burro!
A inteligência corrompe.
A sabedoria divide.
A riqueza destrói.