DESABAR OU ARFAR

Quanta cavilação! Estou farta de conviver em meio a tanta falsidade. Fui entrevistada em minha escola durante um provão. Tinham noventa questões ao todo. Noventa. Sabe o que é isso? Muita atenção em cada palavra impressa. Ouvir apenas os silêncios imprescindíveis de serem ouvidos. Para depois fazer festa e comemorar. Mas minha sala não colabora nadinha de nada. Um monte de crianças brincando de serem adultos. Foram cadeiras arrastando, cabeças rolando, a porta batendo forte o suficiente para espantar a lucidez... parabéns cantado tão alto que até os surdos escutaram - um verdadeiro milagre! Além disso, uma câmera da TV UNIÃO na sua cara não ajuda muito. O diretor conversando e rindo. Uma maravilha! E quiseram a mim. Eu elogiando o colégio. Não podia reclamar. Apenas o lado positivo, disse-me o meu querido coordenador Ruan. Não fui irônica em relação a isso, pois gosto muito dele. Parece tanto com as politicagens de um certo país que eu conheço. Por que eu? Que conversa é essa de aluna exemplar? Estudo sim. Estudo para mim. Tento evoluir a cada dia. Perturbo meus professores? Bastante. Eles são, aliás, pessoas incríveis. São pessoas nas quais me espelho todos os dias. Minha inspiração. Alexandre com sua adorável paciência. Amanda com sua delicadeza. Bruno com sua sabedoria. Socorro com sua bondade. Neide, minha querida "tudinha". Todos. Amo a todos. Uns mais outros menos, claro. Sou eternamente grata. Mesmo assim, não vendo meus valores nem omitirei fatos, se pedirem isso. Ísis do Vale não é assim. Sou aparentemente tranquila, passiva, mas arde em mim o desejo por justiça. Se eu estudo muito, é porque amo. Ninguém me manda fazer isso. Não suportaria viver sem livros. Acho até que seria capaz de cometer suicídio. Parece loucura, eu sei. Muitas pessoas veem os estudos como uma atividade entediante e cansativa, por isso adimiram tanto a uma pessoa "esforçada". Sinto muito, caso você também pense assim, caro leitor. Para mim, não há coisíssima nenhuma de esforço. Estudar é uma necessidade da alma, intrínseca a qualquer ser humano, pois é uma atividade prazerosa. O conhecimento integra a humanidade e nos deixa equiparados. Aprender é trocar experiências e expectativas. Em uma simples história podem existir personagens que ensinam um pouco mais sobre nós mesmos. É certo que se trata de um momento solitário, em que é preciso refletir sobre os mais variados temas. Todavia, a imaginação preenche-nos e impulsiona nossa mente a uma incansável busca pelo saber. Acho detestável chamar tanta atenção pelo simples fato de ter um pensamento diferente. As pessoas não param de falar o quanto você é inteligente. Eu não sou. Sou uma mera aprendiz tentando ser feliz.

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 06/12/2017
Código do texto: T6192031
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