Uma xícara de chá
É noite e ele está na mesa, na verdade a da cozinha pareceu ser mais aconchegante que a do quarto, talvez porque acabara de fazer uma xícara de chá.
Entre um gole e outro, tudo o que tem para aquecer nesse momento, o mundo poderia passar pelos pensamentos , mas seu universo subjetivo tornou-se limitado ao impacto de algumas decisões ou de coisas que nunca foram ditas e que talvez nunca cheguem a ser, ou mesmo de momentos que não voltam, levados pelo rio da vida. Nada é simples quando se toma uma xícara de chá sozinho no meio da noite.
Me pergunto quem seria tão preciosa a ponto de faze-lo esquecer do turbilhão de água e pedras na cachoeira que o aguarda a frente. Quem o fez encontrar tão estranhos sentimentos que superam aqueles que já tiraram o sono tantas vezes junto a xícaras de café? Como entender a existência de alguém que o fez gostar a ponto de pensar que coisas tão simples inerente a uma pessoa , o levaria a esse mundo novo e esquisito em que aquele jeito de olhar ou até mesmo o próprio respirar se tornasse uma coisa essencial?
Talvez essa pessoa surja frente a ele antes do último gole, talvez por isso esteja bebendo tão devagar.
Penso que deve ser assim que o tempo passe para quem está bebendo chá como ele, uma hora é feita de muitos minutos de horas, que não conseguiu transformar em dias. Penso que se eu soubesse um dia em como é se sentir dessa forma , não ficaria parado tomando chá enquanto aquela a quem amo está a escapar por entre os dedos.
Mas talvez ela já tenha tomado a decisão e não houvesse nada mais que pudesse fazer além de beber chá.