Ser feliz
Ser feliz é um estado de espirito que se conquista.
Cada vez fica mais claro para mim que para ser feliz não precisamos de quase nada que pressupúnhamos que precisávamos.
A sociedade, no sentido mais pejorativo da palavra, não sabe indicar o caminho para ser feliz. Não sabe pois não o conhece. Não o conhece porque não quer ou não interessa saber. Para ela que se mantenham as coisas como são. As ilusões como são. Então:
Que se vendam cada vez mais bebidas.
Que se vendam cada vez mais drogas.
Que sejamos cada vez mais tentados a sermos corruptos.
Que vivamos cada vez mais a filosofia do ter.
Que compremos carros novos.
Que nos matemos no trabalho buscando ganhar dinheiro.
Que sigamos ídolos vazios.
Que nosso orgulho entupa de raiva quem nos acompanha.
Que nosso egoísmo nos faça esquecer que não somos únicos.
Que o resto do mundo vá para o inferno.
Tudo isto nos é ofertado por diversas mídias, as vezes de propósito, outras vezes sem querer.
Tudo isto muita gente acha normal.
Tudo isto muita gente acha ser necessário para ser feliz.
Mas o tempo passa e a vida vai nos oferecendo resistência, dai, por bem ou por mal, temos que nos adaptar e continuar nossa caminhada. Uns se perdem cada vez mais na ilusão do material, outros começam a refletir e ver o que realmente os fazem felizes. Mas para que a segunda condição aconteça é preciso parar. Parar para ter tempo de avaliar sua vida, suas atitudes e os reflexos de tudo isto. Aí é que as coisas começam a mudar. Percebemos, usando dos recursos da memória, que a felicidade é fugaz e que quando nos damos conta dela, quase sempre ela já se foi. Quase sempre ela já virou passado (talvez por isto algumas pessoas sejam tão apegadas ao passado). Mas o que fazer para ser feliz então? Ah quem dera eu soubesse esta resposta... quem me dera ou fosse mais sábio... posso apenas divagar, e isto é o que eu vou fazer. Você pode concordar ou não, mas agora vamos iniciar nosso passeio pela divagação:
Eu associava a felicidade ao fato de conseguir coisas que me permitisse fazer coisas que me deixasse feliz. Exemplo: comprar uma máquina fotográfica para fazer fotografias, que é uma coisa que eu gosto. Mas um dia a vida veio e levou embora todo os equipamentos que eu tinha, porém eu continuei a gostar de fotografia eu continuei a observar trabalhos de outros fotógrafos, eu mantive meu olhar atento, aí percebi que que o que mais me fazia feliz era ter os conhecimentos que tinha sobre fotografia, fossem poucos ou muitos. Me fazia feliz ver uma foto e saber como foi feita, em que categoria se enquadrava, que iluminação foi usada. Me fazia mais feliz ainda passar isto adiante, caso alguém me perguntasse.
Percebi então que a máquina era uma ferramenta mas o gosto e conhecimento pela fotografia era que me fazia feliz.
Gosto de dirigir, porém o carro é outra ferramenta. O prazer de dirigir é que me deixa feliz.
Tive o privilégio de ter muitos amigos e amigas e aprendi que o tempo passado com amigos nunca é um tempo perdido, mas sempre um tempo onde se pode construir a felicidade. Basta saber ouvir mais que falar. Mas é importante saber que a vida vem e leva muitos dos amigos embora, só fica então a felicidade que compartilhamos no coração. O segredo não é ter amigos, mas sim saber como faze-los.
Também tive o privilégio de ter muitos cães, de raça, vira-latas, adotados, ganhados, comprados... Com todos aprendi as mesmas coisas: amor e respeito. Mais que o cão em si, me entendam bem, é a relação ser humano e animal que me fazia e me faz feliz.
Há tempos atrás fui professor e percebi que existe uma alegria imensa em ver seus alunos aprenderem, em ver seus alunos perceberem o gosto de descobrir. Mas a felicidade não estava em ser professor, mas sim em ver os outros aprendendo.
Gosto muito de plantas e animais, de todos os tipos de animais, até de alguns dos quais as pessoas fogem ou detestam, como cobras ou aranhas. Graças aos amigos e a diversas circunstâncias da vida, pude manter contato com alguns destes animais diferentes, percebi então que até ai pode existir a felicidade. A felicidade em estudar e compreender a necessidade de cada criatura na terra, e o respeito que devemos ter por todas. Aprendi que somos parte da natureza e não mestres ou donos dela. E a felicidade vem em perceber que podemos ser um com ela.
Gosto muito de escrever e já escrevi vários livros, nenhum sucesso. É claro que gostaria que eles vendessem mais, mas não reside ai o gosto pela escrita, escrevo pois isto me faz feliz e se o dinheiro vier será apenas uma consequência deste prazer.
Minha profissão oficial exige que eu acompanhe a tecnologia, é isto não é nenhum sacrifico, pois gosto de tecnologia. Porém enquanto muitas pessoas gostam de ter a tecnologia eu fico feliz em conseguir compreender a tecnologia. Não é o ter é o ser.
Percebi, então que, por mais pobres que formos, temos sempre uma ferramenta à nossa disposição, e é sabendo como usar esta ferramenta, que vamos começar a ser felizes.
Alguns podem usar como ferramenta o seu dinheiro.
Outros podem usar seu saber.
Outros sua capacidade de ouvir.
Outros sua capacidade de falar ou escrever.
Outros sua música.
Outros sua sabedoria e experiência de vida.
Mas todos devem perceber que a felicidade está em saber usar estas ferramentas e não em tê-las.
Nesta vida em que tudo passa, fazer alguém sorrir feliz com as ferramentas que temos, é uma experiência única que traz mais benefícios a nós mesmos do que a quem acreditamos ajudar.
O que eu sei é: que o homem mais feliz que já passou por esta Orbe não tinha onde recostar sua cabeça para dormir, mas tinha amor eterno em seu coração.
E isto é o final.