Bela Meritocracia!
Lá vai o menino no meio da rua, no meio da rua lá vai o menino
O menino é pobre, tem nada não, o coitado tem nem ilusão.
Roubaram o sorriso dele, furtaram a alegria dele
E hoje cabisbaixo não tem coragem de se impor.
Também se impor pra quem?
Pra senhorinha que quando o vê agarra a bolsa com mais força do que o de costume?
Pra autoridade que nem o conhece e já o chama de vagabundo?
Talvez aquele menino sujo possa ser um cara de respeito, mas por que o caminho para ele é tão mais difícil?
Hipócritas dirão que ele teve a mesma chance de todos os outros de sua idade
Que ele não fez por merecer,
Que não estudou que sequer o “fulaninho” agia como gente.
Meritocracia moleque. Você tá querendo o que?
Fica só soltando pipa ao invés de pegar num livro,
Pra baixo e pra cima pedindo “real” pras doninhas...
Tu tá querendo o que? Não tá se esforçando.
Mas será que é mesmo assim?
Aquele menino que apanha quando não consegue dinheiro vendendo bala no sinal teria a mesma oportunidade de “vencer na vida” do que aquele menino que pode se dedicar durante oito horas aos estudos?
Será que aquele menino que levanta e não tem nem um café da manha pra forrar o estômago aprende do mesmo tanto que aqueles que já têm uma mesa farta a sua espera antes mesmo de se levantarem?
E aquele que mora no alto de um morro de uma comunidade carente,
Tem a mesma oportunidade do que moram no bairro nobre e frequentam as melhores escolas?
Acho que não.
Como seria belo se a meritocracia realmente tivesse força
Se todos tivessem a mesma oportunidade de se erguer
Se as pessoas não olhassem para o menino da favela, de modo diferente de quando olha para o menino da classe A.
Se todos somos seres humanos,
Por que insistimos ainda em separar um dos outros pela sua classe social?
E por que teimam em dizer que pessoas com histórias de vida tão distintas têm a mesma oportunidade?
Infelizmente estamos longe da igualdade. Principalmente em uma sociedade onde o capitalismo é cada vez mais agressivo nos parece que tal igualdade está cada vez mais distante. O acúmulo, e desnecessário acúmulo ainda fascinam muitos. Não temo a maturidade de nos colocarmos como iguais aos outros, tendemos nos sentir melhores, e isso é no mínimo triste. Precisamos adotar não só teorias, mas também práticas que visem à igualdade. Tais práticas devem refletir no nosso pensar, no nosso falar, em nosso agir.
Não julgueis o menino pobre que mal pode se locomover até a escola, como se este fosse o único responsável pelo seu futuro, não julgue aquele que se perdeu do caminho por falta de recursos como se ele tivesse sempre escolhido um mal passo por vontade, pois infelizmente o que percebemos em muitos casos é que o erro (que não deixa de ser erro) para aquele menino, naquele momento parecia ser a única opção de um sistema que antes de conhecê-lo já previa para aquele que seu único destino era ser bandido, ao mesmo tempo em que exigia dele uma postura madura (que nem muitos adultos detêm) que lutasse contra os rótulos, e provasse para a sociedade que a [falha] meritocracia teria sentido.