O resto é resto
Acho que desistirei de minhas paixões. O hábito de se apaixonar por “algos” que estão longe de alcance chega a ser pior que o hábito do fumo. O fumo cansa meu pulmão, arranha minha garganta, mexe com cada órgão interno lentamente, porém, por outro lado, seu perigo já vem avisado, no cheiro, na palha enrolada, no rotulo que alerta:
“Esse produto causa câncer, pare de fumar.” Continuam a fumar os que não se importam com estragos em longo prazo e estão preocupados demais em saciar a necessidade, mesmo avisados dos perigos.
Já a paixão é bela e desavisada, vinda com um forte, agradável e ao mesmo tempo suave cheiro, não um cheiro contínuo por tempos e mais tempos, mas um cheiro que se modifica a gosto próprio de quem se apaixona, sua visão é ainda mais bela vinda em uma embalagem singela, que encanta e faz brilhar a visão de quem vê e se apaixona, mesmo que não esteja ajeitada nos conformes ou nos padrões e, o ministério da saúde NÃO adverte:
“O consumo desse produto, mesmo em pequenas doses, causa dependência psicológica, palpitações no coração, perda de raciocino lógico, tristeza crônica e perda da razão.” E se encontram apaixonados os desavisados, que não tem medo do perigo, pois não sabem de sua existência, que não medem os estragos e sentem o impacto quando é tarde demais.
Enfim, talvez, seja melhor desistir de minhas paixões passageiras e concentrar-me na única que sempre esteve ao meu lado quando eu chorava, sorria, lembrava-me de meus melhores momentos ou de meus piores lamentos, as palavras. As palavras que trouxeram-me a escrita que me acolheu e aqueceu quando ninguém mais conseguia.
Apenas isso, não tenho mais nada a dizer, o resto é resto.
Regiane Martins Nonato
26/11/17