Carta Aberta ao Maldito
Amanhã vou acordar na mesma cama, de frente pra mesma parede alaranjada. Vou tropeçar nos mesmos livros no pé da cama e pronunciar os mesmos palavrões, talvez com a voz embargada. Vou regar o mesmo cacto e espetar as pontas dos dedos com o mesmo alfinete, por pura graça. Vou ferver a água na mesma leiteira e sentir o vapor em meus rosto até corar. Vou tomar chá sentada no mesmo carretel enquanto vejo meu sobrinho correr pelo quintal. Vou por o mesmo pijama, por pura preguiça. Vou revisar antigos assuntos e aprender novos. Amanhã as coisas vão continuar iguais, exceto pela presença incomoda dessa tristeza de você ter partido e a denuncia da alegria que vou sentir de ter peito aberto pra qualquer um fazer lar. Adeus, meu bem.