Fé e razão
Por que recusar a promessa das religiões? Por que não aceitar com humildade submeter-se às leis de uma doutrina da salvação "com Deus"?
Por duas razões. Primeiramente - e antes de tudo- porque a promessa que as religiões nos fazem para acalmar as angústias da morte, a saber, aquela segundo a qual somos imortais e vamos reencontrar depois da morte biológica os que amamos, é, como se diz, boa demais para ser verdadeira. Boa demais e muito pouco crível a imagem de um Deus que seria como um pai para os filhos. Como conciliá-la com a insuportável repetição dos massacres e das desgraças que se abatem sobre a humanidade: que pai deixaria seus filhos no inferno de Auschwitz, de Ruanda, do Camboja? Um crente dirá, sem dúvida, que é o preço da liberdade, que Deus fez os homens livres e que o mal lhes deve ser imputado. O que dizer, porém, dos inocentes? O que dizer dos milhares de criancinhas martirizados durante esses crimes ignóbeis contra a humanidade? A razão duvida de que as respostas religiosas bastem.
De alguma forma, a crença em Deus , que surge como que por reação, à guisa de consolo, nos faz talvez perder mais em lucidez do que ganhar em serenidade. Respeita-se os crentes é claro. Não se supõe necessariamente que eles estejam errados, que sua fé seja absurda, ainda menos que a inexistência de Deus seja certa. Como, verdade seja dita, se poderia provar que Deus não existe? Simplesmente não há fé, ponto final. E, nestas condições, é preciso procurar em outro lugar, pensar de outro modo.