Fatalismo líquido
Ergo-me às sombras do passado,
Da janela cega-me o brilho, o calor,
O fogo da existência acha-me os olhos.
Transpiro ainda desacordado, ante o hálito quente do mundo.
Não lembro de mim até que de ti acho as roupas esquecidas junto as minhas ao chão.
Ainda assim, esqueço-me. Acho-me de novo ao espelho (com um novo pelo branco na barba? Sorrio amedrontado.), lavo o rosto sem respostas, não sei se o próximo poema terá final feliz.
Me desdobro, discuto com minha irmã através de uma tela fria.
Calo os meus dedos.
Turva-se o mundo, gota a gota. Sinto o sal que escorre dos olhos, desço as escadas para receber o mundo, nele, em algum lugar há um discurso.
Uma história sobre nós dois, em algum lugar do tempo.
Teriamos filhos, talvez... talvez uma vez mais esquecerias as roupas comigo.
Talvez aprenderias a mim, respeitarias as sentenças sem sentido. Notarias como eu, a instabilidade semântica do amor,
E abraçarias a ti mesma e, amarias o mundo tal como é.
Descobri sonetos de saudade,
enquanto versava sobre a solidão.
No mundo há luta.
Só a paz para quem não a deseja.
Só há amor para quem o percebe.