Todos os dias
Todos os dias digo a mim mesma que vou parar de pensar na vida após a vida. Digo para perseguir meus sonhos e criar sonhos ainda maiores, para criar mais laços que me prendam a este mundo, para agradecer aos que sempre me ajudam. Mas não sou exclusiva de ninguém e vivo sempre para o futuro. Apesar disso, vivo do passado, e no presente eu nunca estou. Além disso, vivo sempre cansada, de viver sempre as mesmas coisas e não poder fazer livremente o que quero e expressar livremente quem sou. Porque desde pequena me ensinaram como é para eu me comportar, que mentiras deveria contar, mas eu não quero. Hoje tenho mais liberdade para falar que não desejo ocultar verdades, as mais bobas que sejam. Não suporto que falem mal pelas costas, não suporto gente falsa. Mas algum dia, aprendi a ser. Aprendi a ser tudo aquilo que eu mais repugnava. Porque os errados sempre levavam vantagem, e quem era certo, neste mundo, só levava a pior. Não que eu tivesse nascido correta, sempre fui devagar para entender as coisas da vida. Errei por ignorância, não por maldade. Mas passei a errar conscientemente. Mas para mim, nada é perdoável quando se trata de mim. Porque sou assim. O negócio é fazer o certo mesmo quando ninguém está vendo. No fim das contas, a única coisa que devo a alguém é tranquilidade à minha consciência. Saber o que sou (e não: quem sou). Se quiser saber como sou, te digo: não sou o que você vê. Aliás, não sou o que ninguém vê. Sou o que ninguém vê, o que ninguém sabe, o que ninguém pensa. Mas escolho o que você quer ver de mim, porque todos são assim. Ninguém logo conhece alguém como realmente é (ou a maioria). Mas comigo é estranho, porque nem eu me conheço completamente. Por isso, me desculpe se você reclama que não me conhece, pois eu também reclamo disso. Peço perdão por ser quem sou, mas sou assim, o que posso fazer? E depois de tantas relações profundas que do dia para a noite se tornaram superficiais, não acredito mais que os encontros deveriam criar laços profundos e para sempre (mas ainda tenho esperanças). Talvez isso seja apenas para familiares, amigos, hobbies e animais. Ou seja, praticamente todo mundo, menos para alguém com quem passar o resto da vida, porque isso não existe. Mas eu me canso de futilidades e não são todos que estão abertos para conversas mais profundas nos primeiros encontros. E estou falando de amigos. Geralmente meu humor é sempre o mesmo: querendo morrer. Se não é morrer de tristeza, é morrer de ciúmes, inveja, paixão, arrependimento, dúvida. Não consigo tocar, abraçar, olhar nos olhos. Mas ainda confio nas pessoas. Não sei se isso é bom ou se não aprendi. Mas ninguém é totalmente bom ou ruim. Uma parte de mim quer incontrolavelmente viver, e a outra, desesperadamente morrer. Quem ganhará esse cabo de guerra? Provavelmente ficarei nessa dúvida até morrer. Enquanto estou pensando, estou sofrendo por todas as coisas. Quanto mais o tempo passa, menos dúvidas consigo sanar (não respondo nenhuma). Minha vida escorre pelos meus dedos e vejo meus dias indo embora. Não sei o que deixarei neste mundo, mas sei o que eu gostaria dele: plenitude. Achei que já tive esse sentimento. Mas não importa mais. Meu coração é vidro que se quebra e não se conserta mais. Mas todos são assim. Mas isso não me ajuda, não me consola. Porque o que sinto é pesado, e nada diminui esse peso. Mas tem outros pesos, que talvez pendam para o outro lado: meus avós e meus pais se sacrificaram para dar um futuro melhor para as gerações que viriam. Às vezes eu perguntava em voz alta o porquê de Deus não ter me levado ao invés de ter levado a minha mãe, pois a vida dela era mais importante do que a minha. E eu não tenho a resposta. Mas pelo sacrifício da minha família, preciso sacrificar a minha vida e seguir em frente. Por isso, dia após dia pego meus propósitos e vou viver.