A vida é passageira, mas o viver é eterno.
A cada dia tenho me preocupado com o sentido dado a vida pelas pessoas.
Falo em termos heurísticos, fugindo de uma análise ortodoxa do viver.
Percebo que para muitos o viver é inexpressivo e, dessa forma, a arte de se viver, se desvanece pelo simples fato de sua falta de sensibilidade.
Vivemos como se fôssemos eternos, mas sem a consciência de que precisamos cultivar essa ‘eternidade’ e, logo ao nos depararmos com situações agruras, fazendo-nos sentir como frágeis somos, é que a falsa ‘consciência’ do eterno se desmorona.
Nossos bens materiais, nossa aparência fisiculturista, nossa mente e nosso intelecto, por assim dizer, brilhantes, tornam-se tão insignificantes diante da luta para manter-se vivo. Mesmo assim, nossas forças ainda não acabaram e nem todos têm a sensibilidade disso...
Essa sociedade corrompida desde a sua fundação, ramificando-se pelas colunas de suas estruturas é o cerne de um mundo que se vislumbra com a impunidade, com a injustiça, com a desonestidade, fomentando da forma mais perversa as desigualdades sociais que tanto têm permitido demonstrar que a vida não vale nada para muitos, e que no topo do poder “legítimo” ou legitimado por essa sociedade, a vida de alguns possui um valor incomensurável.
Com isso percebe-se quão passageira é a vida mesmo com o valor ou o desvalor atribuído a ela...
O eterno, no entanto, torna-se imperceptível para àqueles que não têm sensibilidade, que não conseguem ver a beleza nas coisas simples e terna que a vida lhe oferece. Que rotula sua vida à inclusão de marcas, de modas, de recursos tecnológicos, de status e ostentações desprezíveis para serem felizes, tudo ‘sem’ a consciência de que o eterno vai muito além do agora e que independem da existência dessas rotulações para tornar-se verdadeiro e real.
O eterno às vezes parece ser inatingível. É verdade! Pode até ser inadmissível para muitos, principalmente quando a sensibilidade que muitas vezes se encontra diante dos olhos inexiste aos encantos do coração.
Busca-se viver o hoje, mas com a velocidade do ontem, esquecendo-se de que o mais sensato seria viver o hoje com a esperança do amanhã.
Esse mundo de inquietações e de vida virtualizada que tem fascinado nossas percepções, permitindo a cada dia um avanço, traduz-se na mais frágil ideia de que estamos ‘progredindo’, e, em contrapartida, tem-nos afastado de sermos eternos pela falta de humanidade vivida.
Em breve nossas vidas se resumirão a arquivos digitais, remasterizados, podendo ainda, a cada época passar a ter uma nova formatação para atrair a um novo público, em uma nova interação...
A natureza tem perdido a cada dia sua capacidade de eternizar-se, e nós não estamos distantes disso. Somos parte integrante de um processo que se permite cada vez mais negligenciar seu direito de ser eterno.
Não consigo reconhecer a eternidade para o além-pós-morte, se a vida me permite, em meu tempo, viver toda a intensidade para que eu possa torná-la imortal!
Os outros tempos serão arquivos, assim como tantos outros para quem acha que o eterno está no futuro que não vai se vir.
Recife, 22 de outubro de 2017.
Luiz Carlos Serpa