GARRAFINHA
Em uma manhã de domingo, saí para me distrair um pouco, enquanto observava atentamente tudo a meu redor.
Passei por longas avenidas com construções variadas e entre elas alguns casebres, mais simples e também cheios de muitas cores e vidas.
Tudo era muito bom e deixa-me bastante descontraído e distante dos meus problemas do dia a dia.
Até que por fim me deparei com uma enorme reserva florestal, com todo tipo de vegetação que se possa imaginar.
Grandes quantidades de flores das mais variadas espécies, cores e perfumes diferentes.
Pequenos animais silvestres, uma quantidade incalculável de pássaros, cada um com uma plumagem diferente de cores e cantos maravilhosos.
Percebi que um pouco mais adiante havia uma linda cascata, da qual era lançado um longo véu com águas cristalina que formavam mais á baixo um riozinho onde podia se ver algumas espécies de peixes entre outras vidas aquáticas.
Uma quantidade incontável de lindas borboletas multicoloridas e de tamanhos variados.
Tudo era esplendoroso e deixava-me cada vez mais encantado com o que eu conseguia ver.
Até o ar me parecia perfumado, mais puro e sem igual.
Assim eu me sentia muito bem e à vontade diante de tanta beleza da natureza.
Então resolvi assentar sobre uma pedra que ali havia, e solitário me pus a questionar:
- como pode haver uma coisa assim tão bonita e tão perfeita?
Como pode a vegetação e as árvores produzir flores tão lindas e perfumadas.
Sem dizer da beleza dos frutos, tão saborosos e capazes de nos saciar a fome!
E estes pássaros, como será que se equilibram sobre suas asas, sem se apoiarem em nada, pairando sobre o ar?
E as borboletas, os peixes e outros animais existentes...
Como podem existir e sobreviver sem a ajuda do homem?
E perguntas mil, me passaram pela cabeça.
Pois francamente eu me encontrava perplexo diante de tanta beleza.
De repente um ruído chamou-me a atenção, e, quando olhei para trás, foi que percebi a presença de um menino, de aproximadamente cinco anos de idade, que por ali apareceu como se surgisse do nada.
Ainda de longe eu o observava em silêncio, todos os seus movimentos.
Assim percebi que ele trazia consigo, uma pequena garrafinha descartável, de refrigerante, vazia, porém tampada.
E com um canudinho na boca, ele aspirava bem fundo o ar, em seguida abria a garrafinha, soprava o ar dentro da mesma e a fechava rapidamente.
Depois de vê-lo fazer isso por inúmeras vezes, resolvi me aproximar dele e arrisquei assim, uma pergunta, pois aqueles seus movimentos tão repetitivos me deixavam bastante curioso.
Assim, aproximei-me dele e lhe dirigi a minha tão curiosa e desejada pergunta...
- O que é que você está fazendo com esta garrafinha em suas mãos e este canudinho em sua boca?
Ele sem hesitação, assim me respondeu...
- Ora, eu vou colocar aqui dentro dessa garrafinha e com este canudinho, todo o ar espalhado pelo mundo inteiro, você não está vendo?
-Sim, disse-me a ele:
Mas isso é uma coisa muito impossível, pois além de sua garrafinha ser muito pequena, cada vez que você a abre para colocar mais ar, o que está aí dentro sai, e assim sendo, você jamais conseguirá recolher todo o ar existente no mundo como pretende.
Então, ele tomando novamente a palavra, disse-me:
- Impossível é você querer desvendar os mistérios de Deus.
De onde vem a vida de tudo que se move sobre a terra e embaixo das águas.
Isto você jamais saberá, por mais que você viva.
E dizendo isso saio correndo por entre a vegetação com sua garrafinha na mão, sem ter como fazê-lo esperar um pouco mais ou lhe questionar algo mais.
Passei a freqüentar aquele local por muito e muito tempo depois, com esperanças de revê-lo novamente.
Porém, nunca mais, me foi possível reencontrar aquele menino, que me fez acreditar, que a única fonte de vida só pode proceder das maravilhas de Deus e que seus mistérios só cabem a Ele desvendar.
E por mais que procuremos nos aproximar ou imitá-lo, com nossa inteligência limitada, nós jamais alcançaremos a perfeição.
E apesar de termos sido criados à sua imagem e semelhança, nós jamais seremos idênticos a Ele.
Nova Serrana (MG), 28 de fevereiro de 2005.