Considerações sobre a existência

À esquerda do zero. Esse espaço impossível: Não-estar. A irrenunciável trajetória de ser. Quando respiramos, escrevemos e dizemos eu te amo quando queremos é dizer: eu te preciso. Quando erramos e não entendemos e somos mesquinhos até conosco. Como não há impunidade na lei do universo, não existir seria um privilégio que resultaria em não humanos.

Humanidade significa: bote a mão na massa.

Estar aqui não vai muito além de seguir erraticamente, afogando o vazio em mágoas e angústias e em felicidades pequeno-burguesas tais quais bife à milanesa com fritas e tirar os sapatos depois do expediente. Mas aí reside todo propósito, que nós, abusados, declinamos. Fantasiamos destinos incríveis e desfechos heróicos.

Gostaríamos mesmo de ser imaculados Santos em seus altares, abençoando, aconselhando, recebendo velas e louvores e principalmente não existindo mundanamente. Passeio de balão num domingo de sol.

Mas não, nós somos e somos humanos. Nossos sapatos tem a poeira da estrada que trilhamos e nossos joelhos doem o nosso peso.

Então que assim seja.

Amém.

Que existamos com culpa de ser. De ocupar seja qual for esse lugar. Que é pra frente do zero, e só lá onde existe; certo e errado, céu e inferno, pecado e redenção.

E nós, que somos só isso mas ainda muito mais.