Da menina, de mim
Menina, menina. Os olhos redondos da menina, da mulher. Redondos como seu giro, como roda, roda, roda a menina. Roda com a saia cumprida adiantada em relação a ela. A menina gira de mãos pequenas, pés descalços, e olhos grandes para poder ver tudo. É sua imagem pintada em mim. Porque de mim, seus outros elementos tem evaporado pelos poros. E a cada dia você pinta mais o seu quadro com cores desbotadas.
Em sua despresença, um algo eu tem me levado pra dentro, me obrigando a mim. A falta de nexo, a loucura, a não linearidade do que sinto com cada parte de ser, ao enxergar o mundo do meu jeito, jeito desastrado, me leva a crer na mentira do começo-meio-fim das coisas, e principalmente, de nós.
Ontem, andava na avenida, ouvindo a cantoria pesada e preta feita pelos meus pés presos nos sapatos, como o canarinho na gaiola da vizinha. Com a mente quase vazia, percebi que era você o barbante que ligava, e dava o nó preciso, nó de marinheiro, de barco, de âncora pesada, e pesada por ser colorida, de cores que ainda não existem nome. Imaginava o quão pesava cada cor.
Nosso amor desenhado com o corpo inteiro na tela entre a gente, deixando a tinta no tecido branco de tanto dançarmos rapidamente entre ele. Pintamo-nos com essas canetinhas todas, estampamos nosso sentimento indefinível com estes mesmos pincéis... E agora? E agora o que vamos fazer? Agora que decoramos o inexplicável. Agora que cabemos em nós. Agora que tudo tem espaço.
Sem o fio, fio de telefone. Fiquei na companhia da secretária eletrônica todo esse tempo, que de você só tinha o nó. Só tu, tu, tu. De telefone. De conversa com o espelho, de delírio, de sonho, melhor, pesadelo!
O tu, tu, tu, vira outra música que me leva pra outro pensamento junto com a incontrolável vontade que querer que tudo estivesse bem, que eu detesto em mim. É que eu não quero ser chato, mas o fato de pensar duas vezes antes de te dizer alguma coisa me incomoda, e incomoda mais por antes ter sido tão natural. A impressão que tenho é que você tem evitado tudo... Eu não quero atrapalhar sua nova fase, até mesmo porque eu concordo que você esteja melhor assim, só que se pra quem já se amou tanto, isso é pouco pra mim. Acabou saindo.
À parte, estou entrando em um estado de inteiro, que me dá a certeza, tão paralela ao medo de evitar o que eu já descobri, de impedir a total liberdade de ser quem sou, de fazer o que eu gosto, e de querer tudo. E saber que eu posso tudo, e isso não é nem metáfora, nem hipérbole. Talvez eu ande não querendo admitir, que não lhe amo mais, por esbarrar na profecia nossa de amor romântico, sair do ideal, do castelinho de areia que construímos sem nunca termos ido à praia.
Nesses instantes estéreos, em que seu corpo tem ido, solto a bolha de sabão, a onda da beira de praia vai embora quando toca meus pés, e vivo minha loucura de cada dia, só. Estive só em sua presença nessas duas estações.
Enquanto ia pra estação, você costurava mais um nó em mim, me dava um pseudo-sentido pra tudo. Sem suas pseudoplacas, descobri que eu sou rua sem saída.