cadeado...
repare, por imposição médica, voltei a caminhar
sacudo a preguiça e,
saio caminhando por ruas de casas...
nossa, fazia tempo que não caminhava,
lembro que um dia me prometido:
não caminho mais, a não ser que tenha onde ir...
o tempo faz a gente desmentir...
não sou chegada a caminhar ouvindo música
existe hora melhor...
quando estamos bem acompanhados...
andar para colocar a cabeça em ordem?
também não é comigo...
gosta dela, bem em desordem ...
sigo, então, observando coisas e pessoas
quer dizer, mais coisas que pessoas...
como qualquer outro,
meu condomínio, não foge à regra...
ando, ando e, não encontro ninguém,
resmungo, que chato...
o homem atual siderado por suas telas !
resta observar, as casas e seus pulsares...
eu sempre gostei e ainda encontro,
casas pulsantes !
há aquelas a cara dos donos, discretíssimas
outras sossegadas, silenciosas, fechadas
fazem dias que passo por uma, assim,
quase sempre, isso mexe comigo...
aquela, particularmente, me chamou a atenção,
seu portão de ferro, acorrentado por um cadeado
que fora trancado, pelo lado de fora...
a cada volta da minha caminhada,
lá estou eu, com o olhar preso ao cadeado...
a casa antes, de janelas abertas,
hoje, vazia, quieta,silenciosamente triste
mais uma volta,
o cadeado trancado pelo lado de fora...
o jardim imponente,
andava resistindo a aceitar que,
estava estreitamente ligado àquele destino, até as orelhas...
atualmente,
anda dando sinais que vai pedir penico...
como não devo interromper a caminhada,
sigo, andando e me perguntando:
quem teria sobrevivido ?
quem teria sido o último ?
o guardião da chave do portão...
como teria vivido aquela missão...
lembraria do que trancou naquela casa?
não...acho que ainda é cedo,
talvez seja jovem...
jovem, custa a descobrir que o passado mora dentro
haverá um dia, ainda distante,
que inevitavelmente, abrirá o cadeado
libertando sua estória do lado de dentro...
Ines