Pensamentos Soltos #2
Já não faço poesias. Espero nos amores surdos o grito abafado que me leve de volta aquele tempo em que eu fazia poesias. Os amores estão cada vez mais calados. E se não gritam, não gritam por não serem mais amores ou não gritam por estarem dopados de desesperanças?
Não conheço mais os amores. Me curvo sobre o parapeito da janela tragando mais um cigarro enquanto a cidade excede a loucura.
Eu sinto sua falta. Ontem mesmo acordei aos prantos no chão da sala, enrolada em um cobertor fino, completamente nua. De dentro do ônibus eu confundia as asas dos aviões com o céu. De dentro do ônibus eu chorava na esperança de que alguém, em algum lugar me encontrasse para me provar algum valor que eu não via. Eu quero ser encontrada. Centenas de rostos todos os dias. Homens e rapazes me olham. O que pensam? Será que pensam?
Sento-me na calçada enquanto olho para as centenas de rostos. Uns mais bonitos que os outros. Na mansarda eu fecho olhos e num delírio profundo imploro aos deuses que me tragam qualquer alma abalada pra dançar com os os corpos, as línguas, com os diabos e como nunca desejei antes, com as almas.