O que será o amor?

O que será o amor?

Dedico a Rubem Alves

Danço, procuro, sonho... Mas o que será o amor? Eros em guerra com Tânatos? Mágica que cura as asas do Anjo Triste? O amor existe? Esse desconhecido encontra às vezes no nosso peito um abrigo, como um menino fugindo do frio o amor se esquenta no nosso coração e assim pulsamos com a mais doce emoção e passamos a amar.

Muito se tem pensado que o amor é sentimento maduro do mundo adulto, mas não é bem assim que Eros contou pra mim esse Deus em sua forma de Querubim ensinou que o amor é próprio das crianças, elas é que fazem as principais descobertas e preenchem a alma com essa substância crística, elas sabem e podem brincar elas sabem e podem amar, se o amor é assim tão menino, uma criança brincando no tapete do tempo tecido com os fios das Moiras, o menino é mesmo fugidio, se vai, custa voltar, pois a traição deixa o ar com hálito de morte, o hálito de Tânatos, aí, as Moiras nos tiram outra sorte e sofremos o pesado destino de existir sem amar.

É possível então amar sem ser amado? Quem ama não ama a própria experiência de amar? E sendo assim não há uma ubiqüidade? Pois o amor está tanto no que ama como no que é amado! Então o que é isso de amor não correspondido?

Pensemos por um momento que o amor é uma carta que alguém atentamente escreveu, esta carta segue seu destino e não sabemos se o destinatário a leu, a carta não é correspondida, no entanto mesmo assim, a carta em si já foi primeiramente lida por quem a escreveu, e, sua materialidade textual é, portanto real, o escritor é o leitor e nisso consiste o amor. Ama-se o ser amado na medida da experiência vivida de amá-lo. Ama-se o ser amado na medida da experiência vivida de amar a si. Assim começo a entender o ensinamento “Amai o próximo como a ti mesmo”, pois é realmente desse jeito, se o amor está em nós, evidenciemos a experiência direta de amarmos, só assim é possível estender nosso ser como o Sol do amanhecer e sentiremos o outro perto do nosso íntimo, próximo de nós mesmos, tão próximo de nós que é impossível não amá-lo também.

A outra parte do ensinamento completa a primeira dizendo “E a Deus sobre todas as coisas”, justamente porque esse Deus é o mesmo Amor e agarrado em suas costas voamos sobre tudo que há, sobre todas as coisas, e desse modo, amamos voar, amamos amar, amamos a Deus, amamos a nós e quem é ateu, quem é mulçumano, americano ou judeu...

Penso que a educação como relação amorosa tem a missão de espalhar cartas pelo mundo, sem se preocupar a quem elas irão chegar, sem se preocupar a que fim elas irão levar, escrever simplesmente para amar, escrever simplesmente para ler, e se alguém pensar convicto que o amor social é o amor real, lembrem-se que sem célula não há coração. Amo você meu irmão.

30/09/04

Leonardo Daniel Ribeiro Borges

Criador da oficina poética (Re)Engenharia do Rock

leodanielrb@yahoo.com.br