O quase suicídio de uma garota do Norte
Era madrugada e tu parecias não me apreciar mais. Eu queria apenas algumas formas de carinho, mas tu me negaste. Eu sou uma garota num corpo de um garoto. Gosto de ser os dois, mas tu disseste para mim: eu prefiro garotos com perfil de mocinhos. Tu não poderias ser apresentado para a sociedade. Assim como os outros que me abandonaram, eu fiquei na sarjeta daquela noite.
Inquieta e nervosa, naquele momento eu só pensava em não estar mais ali. Eu não consigo me enquadrar num mundo onde tenha que viver ou ser reconhecida atrás de cortinas. Onde está o mal em mim? Eu me olhei no espelho e tocava meu corpo. Eu tentei procurar uma falha se quer em mim. Será que preciso me vestir de mulher? Será que preciso operar? No fundo, eu não quero matar o meu ser mais bonito. Eu sei que sou tanto Felipe e sei que também sou Sofia. Eu não admitia ser tratada ao tal ponto.
Eu corri para cozinha; peguei uma faca e mirei em meu punho. Eu não queria mais viver essa situação. Sei que o mundo foi feito de adequações, mas será que preciso aceitar o fato que as pessoas só irão me curtir se eu estiver atrás de uma porta, sendo muda e quieta? Eu sou humana e tenho sentimentos e desejos como um outro qualquer mesmo estando num corpo masculino, que também amo muito. Seria a minha resistência da vida. Acho que só não provoquei por acreditar que ainda posso ser visto como um alguém.
Pensei: eu sou a garota dos meus sonhos. Eu me desejo todos os dias. Eu me faço crê todos os dias que sou esta pessoa e quem gostar de mim, vai gostar do jeito que eu sou, assim como meus amigos e minha família. Então... eu sou essa garota.