O ÚLTIMO ESPANTO

O silêncio não está na ausência de som, mas na expectativa de uma resposta. A árvore é a materialização física do silêncio, frondosa, fixa numa calçada, pressentindo o nosso ir e vir sem o menor interesse pelo nosso destino. Esgotaremos os dias na Terra e a árvore continuará ali, imponente, sem ter nos respondido sobre o valor da sua pretensa imortalidade imóvel. Pensar é um silêncio que tenta interpretar o caos. O céu é o silêncio acima das cabeças humanas, com suas luzes estelares que viajam no tempo para brilhar como o passado intraduzível de outros pontos do universo. Nossa fátua luz se apagará e as estrelas irão insistir em coroar nossas covas, seremos uma biografia decomposta, microscópica e iluminada pelo deboche da eternidade sideral. Não, a morte não é o silêncio, é o intervalo entre a última respiração e a descoberta derradeira de uma remota compaixão, do único momento plenamente vivido. A morte é o último espanto.
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 31/08/2017
Reeditado em 01/09/2017
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