PESSOAS AMBÍGUAS

A ambiguidade não é apenas um artifício de linguagem. Ela se estende também ao espírito. Um enunciado ambíguo é aquele que tem mais de um sentido. Uma pessoa ambígua é, basicamente, alguém que tem mais de uma cara. Você não sabe ao certo o que dizer na presença dela...é como se a presença desse ser polissêmico e camuflado inibisse a sua linguagem de modo que o que você diz precisa ser milimetricamente medido, calculado, para evitar desdobramentos contra você.

Um ambíguo jamais poderá ser um amigo.

Para o ambíguo , a máscara do espírito é uma arte. A arte de sobreviver pela lei do mais forte. Para o amigo, a máscara é um adereço dos artistas cênicos. Não é algo da vida real.

Em suma, você não se sente à vontade perto de uma pessoa ambígua. É como um teatro da vida real. Eles vão esperar um momento para te expor ao ridículo diante da plateia , e acha tudo muito normal.

Eu conheço algumas pessoas ambíguas. Tenho até quase- colegas que insisto em ter como amigos. É que o coração, em sua fraqueza emotiva, persiste nas quase- qualidades da pessoa ambígua, na tentativa de esquecer os deslizes de caráter e os atos falhos que o sujeito cometeu contra você. Aquelas brincadeiras que te fazem rir um sorriso estreito e amargo durante o dia, mas te levam ao fundo do poço , atrás das cortinas.

Mas você sorri com a pessoa, respeita- a, troca informações. Leva uma vida de coleguismo na qual existe uma barreira invisível que impede a razão de ir para o campo da amizade. Você , superficialmente, ingenuamente, não entende porque essa pessoa agiu como agiu, mas lá no fundo sabe que ela não fica feliz com a tua felicidade. Ela te vê como um adversário, ou até como um colega- útil. Um colega útil é alguém tipo copos e pratos descartáveis, que te servem nos momentos de sede e fome. Mas, depois vão impiedosamente para o lixo...

Muito cuidado com as ambiguidades . Nem todo mundo que usa máscara é um artista. Pode ser um mero canalha.