A Eva D'arc

Mulher é um bicho esquisito? Não.

Enlouquecemos porque vivemos uma urgência absurda de ser ao mesmo tempo a bela e a fera. Lilith e Eva.

Se antes éramos escolhidas pelos homens, hoje escolhemos a nós mesmas.

Em um mundo invertido onde as coisas são e as pessoas apenas estão, escolher a si mesmo é uma ousadia.

Ainda somos as virginais donzelas desprotegidas ou as detentoras cruéis da chave do pecado ou as mães em eterno e sublime sacrifício.

Somos a gosto dos fregueses, só não temos mais tempo de nos moldar para agradar e corresponder a padrões. Somos o que as circunstâncias nos fazem ou o que fazemos delas e não é raro sermos mais de uma ao mesmo tempo.

Vivemos a urgência de um mundo onde não cabem as incertezas e nem os nossos temores. Desde de sempre fomos fortes, agora aprendemos apenas a transformar o que era um escudo protetor em uma espada afiada.

Se antes nos defendíamos, estamos no ataque. Nem todas gostam dessa guerra e nem todas tem consciência de estar nela, é inevitável.

E não... definitivamente nosso oponente não é o sexo oposto. O homem é nossa completude, é nosso "outro lado do mesmo lado", nós não lutamos contra eles, lutamos com eles e também por eles.

O que combatemos é o insensível que nos objetifica, a arrogância que nos desumaniza, a coisificação que nos rotula. O medo que nos oprime.

Assim, ser mulher é por si só estar na luta, conscientes ou não disto: as donzelas, as pecadores e as mães de família estão em guerra o tempo todo; e não é contra um inimigo personificado no espantalho tolo e ultrapassado do machismo.

É uma luta maior, mais honrada, mais humana.

Renata Vasconcelos.