Não sou do tipo reciclável
Vem aqui. Me conta um segredo. Igual àquele que você me contou quando tínhamos doze anos e o feito era pesado demais pra pessoas dessa idade.
Me liga pra me zuar. Pra fingir de forma pedante que esqueceu meu aniversário e depois me parabenizar.
Molha meu ombro com suas lágrimas de derrota, seus corações partidos, seus sonhos frustrados. Eu seco ele e deixo você molhar de novo, a qualquer hora e por enesimos motivos. Até pelo motivo redundante que permeia sua vida e se transforma, com o tempo, no protagonista das suas mentiras.
Me conta suas mentiras bem ensaiadas que eu embarco com você nessa aventura fascinante e te faço crer que eu creio. Depois pode assumir que era tudo mentira e aí deixa que é minha vez de mentir pra te poupar do constrangimento.
Me fala dos seus sonhos, novos hábitos, planos. Me mostra seus talentos, conquistas, glórias, que eu sempre estarei no meio da plateia te aplaudindo. Mas sinta-se a vontade pra me falar, também, dos seus medos, vergonhas e fracassos, porque eu faço a plateia mesmo que não haja palmas.
Me usa, que eu deixo. Estou aqui pra isso. Amigo, estou aqui.
Depois me transforma em pedaço frágil de celulose que limpa seus restos fecais e me joga no lixo pra apodrecer.
Me liga depois de cinco anos pra perguntar se eu estou com seu livro. Não estou. Desliga.