Grão de areia
Na madrugada dormem a maioria de nós humanos,
Embora observe-se nos prédios centenas de luzes apagadas
Há sempre ali uma pequena janela acesa,
Quem serás que lá vive?
E serás que estás realmente acordado?
O que estás a fazer?
Talvez se puderes observar atentamente poderás ver,
A luz de uma tela acesa, movimentando-se em clarões,
Será uma tevê?
Ou simplesmente uma nua e crua luz branca?
Mas que curiosidade em saber,
quem vive, o que sentes e o que fazes ali.
Por que somos tão curiosos?
E já reparaste?
Que a madrugada costuma ser repleta de seres solitários?
Tanto em seus aposentos como nas ruas os boêmios.
Talvez todos sejamos meio solitários
como as paredes brancas das casas,
Que vontade de preenchê-las de cores,
De poesias e rimas.
Mas que solitária essa madrugada,
Paraste para sequer ver a lua?
E as pessoas que vivem em bairros,
longe das grandes cidades?
Onde ouvem-se os cantos dos galos
Notívagos,
Quantos serão a cantar?
Dois, três quem sabe quatro.
Já paraste para observar?
E não ainda satisfeitos
coloca-se uma música para fazer companhia...
Ondas sonoras passando por fones de ouvido,
Cuidando para que os ruídos não acordem ninguém...
A mente que insiste em não dormir,
Fala, fala, pensa e pensa....
E nada tem haver/ a ver,
As vezes tudo.
Por mais medo que tenhamos da solidão,
ela se vê presente,
Mas ao ouvir esses sons e respirando fundo,
nos comunicamos com quem quer ou com o que seja.
A solidão que por hora faz-se necessária,
como algo que tenhamos a aprender,
como um segredo a ser desvendado,
um segredo guardado.
E a mente se atentando a entender.
Talvez tenhamos que passar horas assim ao relento
Para compreender a imensidão
que existe num grão de areia.
Da pequena janela acesa,
Iluminando-se pela vida inteira.