DIA DE CHUVA

Hoje está chovendo lá fora. Minha cabeça dói, mas tento esquecer porque ainda tenho muita coisa para fazer.

Fiquei praticamente o dia todo trancada no quarto e me libertei do sutiã, nossa, como eu odeio esse acessório de beleza, me aperta, me sufoca, mas devo confessar que deixa meus seios lindos.

O exemplo do sutiã é só uma parábola, uma forma de dizer que, muitas vezes, não faço ou digo o que quero, apenas digo o que considero muito importante, no momento, ou o que consigo dizer.

Posso dizer que sou uma coisa da qual não gosto muito, não sou espontânea, extrovertida e nem alegre. Sou meio “bicho do mato” mesmo. Meu mundo fica “cá dentro”, às vezes explodo, surto, mas é exatamente por guardar sempre tanta coisa, tantos sentimentos, tantas mágoas e gestos não expressados que chega um momento que eu não aguento e de alguma coisa esbravejo.

Não gosto de admitir, mas percebi com o tempo que sou mais casa e sofá, do que galera e balada. Mas admito que têm dias que desejo bebida, balada, enlouquecer a noite inteira, sem pensar em mais nada.

Não é fácil gostar de mim, muitas vezes nem eu mesma gosto, às vezes, até faço umas análises e críticas internas para entender porque ajo de certas formas que não me agradam. Por isso, entendo e tenho até admiração pelas pessoas que tentam (muitas vezes sem sucesso) penetrar essa barreira à minha frente.

Não é fácil me querer, porque nem eu mesma sei o que quero. Vivo nessa inconstância que é a minha vida e os meus desejos. Na minha vida tudo é um “achismo”, acho que gosto disso, acho que gosto dele, acho que quero aquilo... você tem noção do quanto ser assim me aborrece?!

Tenho orgulho do que já consegui, mas não me orgulho de ser quem sou, tento ser diferente, mudar, mas não consigo, por mais que eu tente, penso em tudo que poderia ter sido diferente, mais fácil, mais prazeroso; por que sou assim? Por que não de outro jeito? Tudo em mim parece tão falso, tão sem amor, sem sentimentos, nem minhas mãos agem como quero.

Entro em minha concha quando alguém diz algo que não gostei de ouvir, sinto sangrar minha garganta quando as palavras que quero tanto dizer não saem da forma que desejo. Fecho-me então no quarto amaldiçoando o jeito das coisas, então fico só, mas não que eu queira ser só, mas compreendo que as pessoas, as baladas e as bebidas não ficaram para mim.

NANA OLIVER
Enviado por NANA OLIVER em 04/08/2017
Reeditado em 19/01/2019
Código do texto: T6074312
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