Pensamentos soltos
Tenho de ser mais relevante comigo mesmo, às vezes dói-me as marteladas que a mim próprio dou, tenho de saber ler-me os próprios pensamentos sem que, nisso, tenha de me julgar como um tirano. Mas, como? Penso num embaraço de sensações que, quando dou por mim, já estou sentindo o peso dos meus julgamentos; nunca vejo o momento de um pensamento para o outro - quando percebo já pensei, já senti. A cada instante estou como que por trás de mim: se me analiso só me vejo o rastro, se me observo logo perco-me, e penso sentindo sem qualquer intenção. Vejo claramente que meus pensamentos estão sempre ensaiando diálogos sobre coisas que li, sobre amigos, trabalho - tudo aquilo que mais próximo de mim está, tanto lembranças como a impressão deixada em mim pelas coisas externas, torna-se matéria de sonho para eu sonhar.
É preciso silenciar mais... acalmar a alma e olhar esta inquietação, esse vazio que me joga pra todo lado buscando alguma coisa. Minha sinceridade para comigo mesmo tem crescido tanto, que já não deixo de ter consciência do meu desassossego calmo e silencioso. Estou pra pegar-me no pulo enquanto penso, vou pular por cima da gramática e enxergar o que há por trás da palavras "Eu". Sei que é uma loucura tudo isso, é como brincar de esconde-esconde consigo mesmo. Sou esta inquietação no coração, mas ainda me separo dela como se ela estivesse em mim. É isso que me deixa absorto: Se tudo em mim sou eu, então, separo meus sentimentos e pensamentos de mim, como se de fato fossem meus, e separados - por quê?
Eu escolho o que sou ou o Ser-eu foi me dado como a luz foi dada ao sol?
Uma inquietação tranquila insiste em morar no meu coração, está sempre aqui, quietinha, independente do que eu esteja fazendo, exceto em instantes de emoção intensa. Há também um tédio calmo de fim de tarde, uma monotonia silenciosa no corpo está sempre comigo, caminha comigo, minha sombra - sou eu, onde me levo na cuca como uma tartaruga o seu casco. Ah, como é pesado! Como é pesado o Ser-eu!