Tungstênio

Talvez você não saiba como é ser jovem, bonita e ter todo um futuro brilhante pela frente. Talvez não saiba como é casar-se antes dos vinte com um homem bem sucedido, refazer a vida na cidade grande e depois esmaecer dia após dia trancafiada em uma casa enorme, cuidando de três garotos, sabendo das traições, sentindo os outros perfumes em suas roupas, e se perguntando se um dia será possível fugir de tudo aquilo e viver o sonho americano que antes fora prometido.

As rugas chegam fazendo caminhos que demarcam por onde o sofrimento tem passado, e, quando você se olha no espelho mais gorda, cansada e sem graça, não há nada de poético nisso. Porque os anos passam e levam embora toda a poesia. O glamour do vintage só existe na cabeça das adolescentes.

Ser considerada louca quando se é mãe não é tão instigante quanto ser louca aos vinte e tantos. Você leva a culpa pelas feridas existenciais da família, por ter deixado a casa se tornar uma versão rebuscada do Tártaro, e leva a culpa por enlouquecer visto que, como mãe, sua áurea missão na Terra é ser forte o suficiente. Sem glórias, sem poemas, sem dores romantizadas.

Infelizmente, não há como dizer que as coisas vão melhorar, elas podem até piorar com o passar dos anos, e não há nesse pensamento um conselho a ser dado. Há porém uma mulher de vinte e poucos anos, como você já teve um dia, que admite a poesia em sua vida, e vê em seus olhos claros enrugados a beleza das décadas atuais, mas acima de tudo, a força.

Enlouquecer não é a pior coisa do mundo, tudo bem não estar no controle, ainda restam as artes góticas a serem apreciadas, e o melhor da terra a ser degustado.

Raysla Lopes
Enviado por Raysla Lopes em 03/08/2017
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