Autobiografia sem fatos

Era um rapaz solitário, pessoa simples, comum, o qual qualquer um simpatizava; tinha amigos que lhe gostavam, no entanto, sentia-se sozinho em meio a seus próximos, estava sempre ali com a sensação de vazio, de que faltava algo essencial na comunicação, na vida que todos viviam. Vivia numa lacuna vazia, ria, brincava, como todos, sempre atencioso ao que lhe diziam, sempre buscando um sentido mais vivo por trás das palavras. Sentia-se como um andarilho sobre a Terra, caminhava errante sem preocupar-se pra aonde; vivia pra cima e pra baixo com livros de Nietzsche, Krishnamurt e Fernando Pessoa, seus amigos que lhe nutriam a alma. Lia vorazmente Nietzsche, sentia-se próximo da solidão do filósofo, ele o entendia, ria e chorava com ele; lia Pessoa para colorir de versos os densos pensamentos que lhe fuzilavam, refletindo e poetando com o poeta, aquarelando sua confusão interior a qual ele observava resignado através dos ensinamentos de Krishna...

Mas, via-se claramente que já estava cansando da relação superficial com seus mestres de trocar palavras por palavras, algo fundamental faltava, parecia oculto, a comunicação tornava-se superficial e sem sentido, pedindo uma relação com o mundo mais íntegra, não verbal, mais sensitiva, uma relação de instante a instante onde é preenchida a vida pelo próprio acontecimento. Uma vida que se justifique no silêncio do coração pelo sentido extremo de existir.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 31/07/2017
Reeditado em 22/08/2017
Código do texto: T6070527
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