Sobre encontrar-se
_Ana, vem depressa, pois as portas da frente já estão fechando!
Ela corre sem olhar para trás. Estranhamente voltando ao início. Num ponto onde as lágrimas sempre borram-lhe os olhos. Agora, porém, estava muito mais difícil ouvir-se. Como se algo dentro dela quisesse o silêncio total. É possível que haja um tempo onde não seja necessário ir além. Mas, agora ela preferiu pular. Imersa no mergulho vazio de sua razão. Porque para ela é melhor encarar os medos. Lutar com eles de igual para igual.
_Compreendi que é aqui o meu lugar. Onde cortaram minhas pernas. Meu lugar é aqui - escondida no banheiro ou sentada no azulejo frio. Observando a lua pela janela até adormecer. Te esperando e te construindo dentro de mim. Demorei tanto para perceber que meu lugar é onde me sinto livre. É aqui - escrevendo. É como pisar em folhas secas ouvindo o som de cada parte despedaçando - só que ninguém percebe seus fragmentos no ar. É parte da nossa vida. É esse o eixo - somos todos partes de promessas quebradas.
_Hora de adormecer Ana!
De repente esse seja um recomeço diferente - porque agora ela está no seu lugar.