Conversa ao Pé das Nuvens
Meu nome é Inquieto. Para justificá-lo, desde a minha adolescência exerci a minha aguda e persistente curiosidade, traduzida explícita ou implicitamente no indefectível vocábulo: “Por quê”?, o qual nunca se ausentava da minha imaginação.
A característica da inquietude, obviamente, não é exclusividade de ninguém, mesmo para quem a tem no próprio nome, como no meu caso. Contudo, para mim ela é muito intensa, e as perguntas que ninguém pode responder insistiam na minha tortura.
Na trajetória da vida, já na segunda etapa decrescente do desenvolvimento humano, como sexagenário, prevalecia em mim o agnosticismo moderado, em paralelo a uma descrença mais profunda em relação à Humanidade. Mas, o onipresente “Por que”? ali estava: Por que as desigualdades? Por que o mal e a sua predominância? Por que as injustiças? Por que o sofrimento? Por que as catástrofes naturais? Por que a morte?
A maravilhosa “indústria do pensamento”, localizada na parte mais importante do nosso corpo, o nosso intelecto, processou rapidamente essas indagações e respondeu, diante de um semblante resignado: tudo isso é aleatório, fortuito e casual, pois nada tem a menor importância, senão aquela que você mesmo estabelece. Aceite o fim de tudo, inclusive o seu, pare de se queixar, e não alimente expectativas improváveis.
A seguir, explodiu no meu pensamento, vindo de algum lugar incerto, a pergunta: Inquieto, diga-me: você na verdade, está se queixando da vida; então Eu lhe pergunto: o que você faria, se o tempo voltasse atrás e se lhe oferecessem as mesmas circunstâncias da sua vida regressa? Sem me dar conta de onde surgia essa voz que não emitia nenhum som audível, eu permaneci conjecturando alguns segundos, e respondi, não sabia para quem, talvez para mim mesmo: eu faria exatamente tudo aquilo que eu fiz. E a voz retrucou: Por quê? Novamente alguns segundos de conjecturas: Por que eu sou assim e não mudo. E a voz que não emite som: Então do que você está reclamando? Pensando melhor, acho que não tenho mais reclamações. E a voz sem som: Ótimo, então fique sabendo, que você é minha imagem e semelhança, pois sou imutável, e todas as circunstâncias que os inquietam, também são imutáveis, como um rolo de filme, pois o que Me interessa mesmo, é Um Terço, (33,3) possível de recuperação. O prêmio para ele compensará com sobras o seu sofrimento. Por essa terceira parte. Eu sacrifiquei o meu próprio Filho! (Isaías 53:5,10 e Romanos 8:32) Os outros Dois Terços, (66,6) (Apocalipse 13:18) que aparentemente levam vantagem, Eu cuidarei deles pessoalmente, e colherão os “frutos” daquilo que plantaram.
Mas, aquela voz que não partia da minha indústria intelectual me intrigou, e mais ainda, uma impressionante sucessão de fenômenos, e muitas audições sem som, extensas demais para incluir no texto, que reunidas, deram origem aos livros “Caminho Para o Tudo” e “Dez Breves Lições da Theosophia”, ambos postados no Recanto das Letras.
Como consequência das audições, ocorreu o “falecimento” do Inquieto agnóstico, e o consequente “nascimento” de um tranquilo Cristão independente, que não tem mais nenhuma pergunta a fazer, a quem quer que seja. Mas, por outro lado, também não tem muita gente com quem conversar... pois fala uma língua estranha, quase inaudível...
Com efeito, o Recanto das Letras tornou-se o escoadouro para os textos difíceis de serem compreendidos, escritos apenas para “Alpinistas” e “Mergulhadores”, arrojados, persistentes, amantes das alturas e das profundezas, contumazes pesquisadores, que buscam satisfazer a aguda inquietude, que transcende os limites da racionalidade, em busca das respostas que escapam das limitações humanas. Eles querem apenas saber, de forma independente, formando as suas próprias convicções, sem a interferência de quem quer que seja, especialmente daqueles que vivem à custa dos ingênuos.
Contudo, após a “tempestade espiritual”, restou o paradoxo da Fé, pois quanto mais intensa essa tempestade, maior a crença no improvável e menor a crença no provável, ou seja, na Humanidade. Esquisito não é mesmo?