Para Amelie Valente
L. E. R. (Leituras Esperam Respostas)
Amelie,
Eu juro que não tentarei mais perder tempo escrevendo nada. Cuidarei que eu mesmo não tenha recaídas (risos). Deverei ler, ler, ler, reler – se e quando for o caso, claro, claro...
Mas eu não sou de ferro, Amelie. Não sou de ferro. Dentro da gente bate um coração que toca. Um coração que tenta pensar e um cérebro que deseja amar. Esse deve ser eu! Só pode ser! (mais risos)
Fui buscar chá mate pra mim. De garrafa. Achei duas – saco! Eu esperava pelo dobro, Amelie. Eu esperava pelo dobro. Trouxe bisnaguinhas (veganas, ao que tudo indica), de mandioquinha e cenoura. Uma delícia, Amelie. Uma delícia. Minha mãe gosta delas, sabia? E, no caminho, uma canção me acompanhava. Tocava dentro de minha cabeça. É um clássico de início dos anos 90 – e fim de século. "The Show Must Go On". Do Queen. (A meu ver, a canção mais expressiva e profunda deles. Um epitáfio. Um símbolo, marca indelével. Histórica. Amelie... Que letra, Amelie! Que letra! Que música! Quanto sentimento nisso tudo! O peso da luz! O peso de um coração que bate! O peso de viver! O peso de ser, por uma vida, e, sem mais nem menos, deixar de ser na hora da partida! Amelie! Quanta poesia, Amelie! Quanta Poesia nisso!
Vou me dedicar a ler, como eu já dissera, no início desse texto. Situação estranha essa. Depois de quase trinta anos escrevendo, todo dia escrevendo ao menos uma linha, Deus, e após cinco livros publicados... O cara resolve se tornar um leitor! Que seja! Vá, Rapaz! Toma os livros em mãos! Lê! Lê! Leggere che te va bene, Ragazzo!
É um "depois" muito especial esse, para mim, Amelie. É um depois de quase trinta anos desde que comecei a escrever. Li bem mais quando mais jovem. Mas – talvez isso seja a verdade por trás de minha experiência – eu só aprendi a melhorar minha escrita após muuuito escrever um pouco todo santo dia. Mas a leitura ainda me foi essencial. Jamais teria escrito uma única linha que tivesse algum efeito na vida das pessoas que apreciam meus textos se não fosse pela leitura. Acho que está mais que na hora, Amelie, de eu dar à leitura o devido valor. A verdadeira importância. Por dentro meu coração bate; e por fora eu tremo. As lágrimas acompanham-me nessa hora. Um dia serei gente, Amelie. Um dia serei gente. Leitor em potencial. Livre: leitor, interessado, valorizador da leitura, responsável e reconhecedor da leitura – como jamais o fizera antes.
Há um novo terreno para eu cultivar. Puxa vida, Amelie! Mal posso esperar!