Sem ação, sem reação
Quando é que deixei a vida se tornar assim tão decadente? Vejo poeira nos livros da estante e percebo que as traças já andam ao redor, sedentas ao meu desleixo. Desisti do que chamam de ação. Sou consumido pelas paranoias da existência e a loucura que é pensar já não me deixa sorrir, dançar, beijar em paz. Passei tanto tempo almejando me tornar consciente e sábio, que o próprio conhecimento me corrompeu. Entendendo demais, deixei de ser gente, passei a ser a desordem. Vomito tanta informação, que ninguém pode me ouvir, ninguém quer ouvir. Não os julgo, a inconveniência de minha presença entope as artérias, fazendo-as explodirem de tédio, e vão se esquivando, provocando o infarto da consideração. Tudo é extremamente pálido e tenho inveja de quem sorri e já não precisa se preocupar com o seu vazio, não o conhece. Conheci as palavras, os filósofos, as citações e perdi a voz serena; perdi o gole de cerveja e o calor de um abraço. Me sinto só, e o sou. Não sei mais o que quero e o suicídio não é a melhor opção, já que estou morto, dentro de meu próprio corpo tão inútil e tão insensível.