Ei, tá frio aí?
Faz 16°. Para um montesclarense é um frio atípico, portanto sentimos com intensidade. Eu estava aqui deitada, debaixo dos meus dois edredons, com meias nos pés, de calça e moleton para aquecer. Cheguei da faculdade e preparei um chocolate quente antes me deitar. E se você pode me ler agora, suspeito que tenha o mesmo conforto que descrevi e talvez também esteja agora usufruindo como eu. Eu até tentei pegar no sono, mas me lembrei do Cássio. Essa lembrança ainda tão viva em minha memória me inquietou. Você deve estar se perguntando quem é esse Cássio que me tirou o sono e me fez escrever este mísero texto. Pois bem, hoje ao sair do trabalho, fui para o ponto de ônibus que fica em frente a empresa em que trabalho, haviam algumas pessoas que também aguardavam, me senti convidativa a tecer um comentário sobre o frio que fazia, mesmo estando com um casaco que amenizava esse frio. As duas moças concordaram comigo. Uma até falou que teria que providenciar um novo casaco, pois o que tinha não estava sendo suficientemente bom para aquece-la. Olhei para o lado e me deparei com um moço, sentado no meio fio, de short e blusa somente, era o Cássio. Engoli o meu comentário em seco e fui invadida por um sentimento de soberba que me desconcertou. Não resisti e caminhei até ele, perguntei o seu nome e onde morava, ainda que já soubesse a resposta. Fui ainda mais idiota e o perguntei como ele fazia quanto ao frio, ele deu de ombros e isso me despedaçou. Tive vontade de tirar ali mesmo o meu casaco, não o fiz porque era pequeno demais para ele. Tão pequeno quanto eu sou. Quanto eu fui. Ele me contou ainda que toma medicamentos que geralmente são doados e falou sobre os motivos que pelo qual foi lhe furtado a dignidade e que já não consegue mais emprego. Prometi que amanhã levarei ao menos um cobertor, mas sei que é muito pouco, queria poder fazer muito mais.
Eu falei de um Cássio, mas quantos Cássios não há? Quantos são percebidos? Quantos são acolhidos? Se me permite um outra pergunta: faz frio aí? Imaginem então para o Cássio.
Te convido hoje a interceder por essas pessoas que tem a rua como "lar", que passam frio, fome e sede. E te convido ainda a refletir sobre o que está ao seu alcance para ajudar alguém nessas condições.
Vamos espalhar o bem, vamos semear o amor!