O preço de pertencer a si mesmo
É um preço alto por pertencer a si mesmo. O total despojamento do sentido de segurança emocional e psicológica, o afastamento daqueles que admiramos, o abandono, faz-nos temer e roer as unhas horrorizados do que o outro há de julgar acerca de nossos pensamentos mais bestiais, imorais, contrários e opostos, justamente a tudo que este mais admira em nós.
Muitos, por uma vida afora, se sacrificam para que o próximo não veja sua cara íntima, e pousam de fingidores, artistas, ao se alegrarem, como um Cristo carregando a cruz, com o sorriso de satisfação do outro. No fundo, por baixo do baile de máscaras, sabem que basta contrariarem estas pessoas - o amigo, a mãe, o pai, a família, a esposa (o), os estranhos, para que estes torçam o nariz e caiam de frequência expressando diante nós desdém, ironia, ou ódio, indiferênça fingida de atenção, a perca de interesse e a expressão de incredulidade, de surpresa indesejada.
Mas, eu não vejo alegria nisso; vejo esgotamento, esforço para ser, tristeza por não ser natural, aquela naturalidade como quando se está na companhia de alguém que não se importa com a nudez do nosso espírito...
A solidão é o custo de pentercer a si mesmo, é o deserto, a incerteza dos horizontes e que, por fim, torna-se quem somos. Estar sozinho não é estar só, é conviver consigo mesmo. A solidão é julgada como ruim porque isola, te coloca mais próximo de si, de seus conflitos. Não existe solidão!
Atravessemos, então, o deserto de nós mesmos! O deserto é o conflito, a aflição, da qual resulta de nossas ações com o próximo, por temor a magoá-los, de que pensem mal a nosso respeito, de que se enganem. Mas, se não nos suportam, é porque já não lhes servimos mais como espelho para suas apreciações; os pais que o digam: levantam seus filhos como coroas...
Atrevessemos, então, e os deixemos para traz aqueles que nos quiserem deixar. A vida flui mais assim. Reter é perecer.
Assim caminharemos mais leves, originais como o verde-folha das árvores silvestres. Graciosos como felinos, leves e selvagens, naturais, em rumo à mais profunda solidão: a morte de nosso orgulho...
O mar nos recebe de braços abertos, rugindo como quem diz que a viagem apenas começa. Quando o deserto acaba, a solidão se vai, e nós junto dela desaparecemos na brisa.
Apenas a imensidão...
Mar..
Mar...
Nos perdemos no horizonte infinito da vida..
É quando já não conseguimos assistir um pôr-do-sol sem se emocionar...