____________O GAROTO E O TEMPO
_ Não, Senhor - respondeu o menino, com voz trêmula.
O Tempo - vencida mais uma partida - sorria paciente.
_ Mas você precisa ir, menino!
_ O que tem aí?
_ Onde?
_ Nos seus bolsos.
_ Meu relógio.
_ Me empresta?
_ De pé! Vamos!
_ Só mais uma partida. Que tal?
_ Não. Já jogamos várias. Venci todas.
_ Mas só enquanto eu trato dos meus ferimentos.
_ Que ferimentos?
_ Para onde eu estou indo?
_ Para a vida.
_ E se eu não quiser?
_ Você não tem escolha.
_ Por quê?
_ Porque é assim, desde que o mundo é mundo. Não se preocupe, você pode até gostar.
_ Eu não entendo.
_ O quê?
_ Como posso gostar de algo que não conheço.
_ Existe algo que você goste muito?
_ De jogar aqui com você.
_ Tudo é jogo, garoto. Tudo é uma questão de estratégia.
Um suspiro desanimado e ambos deitaram a cabeça à mesa.
_ No que está pensando?
_ Muito bem, só mais uma partida à sua criação.
_ E se eu não quiser ser criado?
_ Jesus, cacete, garoto! Cadê a porra do rei? Isso foi um truque?
_ Ah, não. Não!
_ Basta! terá que descer agora.
_ Isso não faz o menor sentido.
_ O quê?
_ Descer para um caminhar breve?
_ Não fui eu o criador das normas. E se não agora, quando?
_ Tudo bem.
E nasceu - precipício - sob a aura cruel da vida...