CAPOEIRA
Marcamos um café no centro da cidade e durante o papo ouvíamos um som de compasso bem marcado com palmas.
Falávamos, durante o cappuccino, enquanto um coro de vozes animadas, no ritmo das batidas, ecoava pela varanda do andar superior do bistrô.
O som dos berimbaus transferiu à nossa conversa uma viagem de volta a um tempo em que a dança e a energia da ginga faziam valer a emoção de cada passo, onde cada movimento novo traduzia a real sensação das infinitas possibilidades.
Tantos saltos sobre si mesma... Quantas esquivas dos golpes da dança... Tanta percepção de tudo no girar de uma roda... Cada gole de café era uma lembrança daquele jogo na vida...
Ela recordou que, haviam saltos difíceis e outros quase impossíveis de se realizar. Falou, principalmente, que, naquela época, era apenas uma garota, que ainda não entendia muito da vida e mesmo assim não gostava de saborea-la. Falou sobre as dificuldades da vida... Faltava-lhe sentir o prazer da musicalidade na alma...
Disse também que parou a tempos e nem se lembra quando... Sabe apenas que, tudo passou e hoje tem muito mais maturidade. Que não dá mais aqueles saltos complexos, nem se compreende com os difíceis, nem muito menos imagina como seriam os quase impossíveis... Confessou-me, acanhadamente, que um dia até deu um salto razoável, mas parecia ter sido bem alto.... Nesse momento ela sorriu... Disse que hoje só da uns pulinhos de alegria, pois ainda tem muito para aprender e sentir.
Eu a ouvia, atentamente... Vez ou outra, tocava a mesa com a ponta dos dedos no ritmo canção e sorria... Mas, a observava em cada palavra e gesto com admiração...
Terminamos o café, nos despedimos e fomos embora... Enquanto ela seguia seu caminho fiquei a observá-la com a certeza de que, ela nem percebeu, mas no salto mais alto e lindo que deu na vida ainda é possível vê-la subindo...