Os Dois Primeiros Encontros

- Minhas opiniões são inúteis, cara - eu disse.

- Que nada cara - ele disse - Eu ligo.

- E se eu tivesse alguma coisa contra tu cheira pó?

- Aí esse não seria tu mano, seria outro Miguel.

Eu não disse nada. Dei um gole naquela Coca-Cola e olhei a construção.

- Por que a gente tá bebendo esse veneno mesmo? - perguntei.

- Tenho uma prova pra fazer já já.

- Preferia beber cerveja.

Nós estávamos sentados à mesa de uma lanchonete que os caras levam as namoradas no primeiro encontro. No fim da rua, virando à esquerda, tinha um motel e eles levavam elas pra lá no terceiro. Esse era um local de dois encontros e nada mais, mas era uma boa renda de dinheiro já que as pessoas estão sempre se separando e trocando de par.

- A gente parece um casal - eu disse rindo.

- Tomava que o Alex não saiba dessa história - ele disse rindo.

- Vocês tão a quanto tempo junto?

- Sei lá mano, já parei de contar a quanto tempo tô tento dor de cabeça.

Essa era a definição de Andriu pra amor: sentir dor de cabeça, eu concordava com aquilo. Quando a gente passa um tempo com alguém de repente tudo aqui acaba os ressentimentos são invitais, quem diz "tá de boa" ou tá mentindo ou não ama, em sua maioria não amam.

- E tu como tá com a branquinha? - me perguntou.

- A gente num se pega mais.

- Sério?! Tá tudo em cara?

- Tá de boa.

Dei um gole e perguntei:

- E tu? Como tá com a branquinha?

- Tô cheirando só de vez em quando.

Rimos e vimos mais um casal chegar.

- Vou lá fazer minha prova mano.

- Também já tô indo.

Fiquei em pé e demos um abraço um abraço. Ele saiu fora e eu fumei um cigarro. Pedi um café.

JMichel
Enviado por JMichel em 13/06/2017
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