ESPERANÇA E DECEPÇÃO

Hoje passei por mais um tropeço. Não um grande, daqueles de cair, bater o joelho e levantar dolorido. Foi um pequeno (embora o tamanho seja bem relativo, disso sei), quase cômico na análise geral, e plenamente fácil de administrar. Afinal, nós é que damos essa dimensão à eles, ninguém mais.

Quando tomamos um pé na bunda, não passamos num processo seletivo ou somos de uma forma ou de outra confrontados com nossa mediocridade pessoal ou profissional, geralmente a auto-estima cai com uma força gravitacional que poderia desfigurar o cosmos, e fica aquele gosto acre na boca, aquela aridez interior. E somos então visitados pela decepção ou pela esperança.

A decepção é amiga da esperança, elas sempre estão em harmonia. Elas se completam (como tudo que é oposto) e dão boas-vindas uma à outra reciprocamente e alternadamente: numa ocasião uma ampara a amiga que trouxe a notícia de um sonho destruído nutrido pela outra, em outro momento a menina detentora das nuvens cinzas acolhe e restaura o ímpeto da irmã, numa troca eterna e perfeita.

A esperança é divina, a decepção é humana. A decepção é comum e transitória, a esperança é etérea e sublime. Mas só quem se decepciona conhece a esperança, e só quem espera algo e não obtém encara a decepção. E o humano inevitavelmente encontra e mergulha no divino, assim como tudo que vem do andar acima vez ou outra deixa as asas relaxarem e dá um rasante sobre as terras onde habitamos.

Não anseiem então, jovens, viver na utopia fantasiosa que lhes vendem como crível... o mundo não é monocromático, mas também não é negro como alguns pintam com tanta avidez. Nele cabe a esperança que alimentamos pela sobrevivência e por alguma serenidade, e também a decepção que nos lembra da fragilidade e ingenuidade das quais somos feitos em primeira instância.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 08/06/2017
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