Sem o tempo
Na verdade, o tempo passou e ninguém viu. Ou não quiseram.
Não perceberam o que ele deixou. E não irão.
O que ele cravou nas paredes que nos cercam. Que nos protegem da falsa ilusão de que o tempo não passa.
Não notaram sua presença, mas sentirão sua ausência. Daqui para frente será assim.
O tempo passou e ninguém se importou. E não quiseram.
Trouxeram relógios para segurá-lo. Em vão
Ampulhetas para aprisiona-lo. Sem sucesso.
E no máximo o deixaram livre ainda mais. Ainda mais esperto.
O tempo passou e ninguém fez nada. Se bem que nada poderia ser feito.
Olharam uns para os outros e riram. De nervosismo, aposto.
Se divertiram em ignorar que o tempo iria passar. Não acreditaram que ele os iria deixar.
E quando se deram conta, passou. Se foi. Acabou.
O tempo passou e insistiram em negar. Não queriam aceitar.
Negaram até na hora da despedida, quando o tempo estava de saída.
Ninguém quis dele se desfazer. O obrigaram a perceber que sem ele nada poderia acontecer.
O tempo se foi e ninguém nada pode fazer. Não quiseram, ou não conseguiram.
Quem sabe apenas dizer que sem ele não poderiam viver.
Que sente a falta do tempo que passou, e que não usufruíram como deveriam.
Eles não queriam, mas sem o tempo nada sobrou.