SOCIEDADE E HIPOCRISIA
Saindo do salão do cabeleireiro, a conversa escutada, fez-me pensar até em casa. Resolvi escrever um pouco, um pensamento.
Somos uma sociedade hipócrita era a tônica da livre expressão no salão. Somos forjados a dizer o que a sociedade, o outro, as situações de poder querem ouvir. O que menos importa é a verdade. Contribuições que fazem pensar melhor também não são bem vindas, pois há uma verdade estabelecida socialmente e ela deve ser respeitada e não confrontada. É o famoso (um tanto esquecido) satus quo.
A conversa girou em torno da exoneração do juiz (de Brasília) que fez algumas declarações sobre a NECESSIDADE DE AVANÇAR na discussão sobre as responsabilidades em torno do aumento de estupros em todos os cantos do Brasil (Será que esta constatação é universal, ou só de países como o nosso?). Infeliz, mas nem por isso verdadeiro em algumas declarações, o dito juiz sofreu as consequências daquilo que a conversa designou como hipocrisia. Está fora das relações de poder e é um inimigo da boa e saudável sociedade.
Minha inferência não é no sentido de concordar com esse ou aquele, mas de ponderar que precisamos sim avançar sobre a complexidade das relações humanas. Pondero que a CULPA TOTAL não seja SEMPRE do estuprador. Em alguns ou mesmo muitos casos pode até ser, mas em todos? Ponderar e refletir, avançar, portanto significa, para mim, analisar como a sociedade está situando, pensando e configurando eticamente suas relações para perceber se no seio destas novas modalidades e tipos não estão muitas razões e motivos de tantas tragédias que se situam nos interiores das famílias brasileiras.
A degradação da sociedade é muitas vezes um mecanismo não percebido por muitas pessoas e quando são afetadas pelas consequências dessa degradação tornam-se vítimas da própria degradação. Assim, a ausência de princípios e valores (muitos deles tradicionais, mas ainda valores) como família, religião, afetividade dos filhos, o bem dos filhos, a moral, a ética, podem provocar verdadeiras tragédias na sociedade que precisam encontrar um responsável. Como a sociedade é a principal responsável pela degradação de seus membros – e isso interessa a sociedade como mecanismo de manutenção – ela não pode concordar com quem pensa em contrariar seus enunciados culturais e ideológicos sobre como a massa social deve pensar. Assim, PENSAR que uma mãe possa ter alguma participação na responsabilidade de um/a filho/a serem afetados e/ou sofrer qualquer tragédia comportamental não pode nem ser considerada pela sociedade do poder. Quem assim pensa deve obrigatoriamente ser afastado das relações de poder, não importa se ele tem ou não razão no que diz.
Penso, nesse pensamento (?) que estamos (como sociedade) afundando em nossa própria incapacidade de enfrentar os fatos como eles se apresentam e sobre eles tecer reflexões que possam incentivar outros caminhos e outras perspectivas para nossos filhos e netos. Se continuarmos nesse processo em que tudo é descartável, inclusive e principalmente a verdade e os valores éticos, estamos rapidamente a caminho da destruição social.
É um pensamento (meu) sobre o qual eu gostaria de estar totalmente equivocado. Gostaria de apostar que no tipo de sociedade que está emergindo minha filha pudesse ter um futuro sadio e equilibrado no seio das relações sócio-humanas. Entretanto, entristeço-me quando no meu modo de pensar não vejo no horizonte social a minha desejável perspectiva. Ainda assim, continuarei apostando.