Refletir - pensar além da realidade...

Para mim, ser humano e civilizado significa considerar todas as pessoas do planeta terra como meus irmãos (princípio da fraternidade) e me intrigar por meio da reflexão sobre as ‘barbáries’ sociais e culturais que cometemos pela via do comportamento e mesmo assim insistimos (pior, acreditamos convictamente nisso) em ser civilizados.

Não desejo ser chato à luz do senso comum e afirmar que eu posso salvar o mundo. A resposta para esta questão é não (senso comum), por isso, reverberar em mim e sobre os meus mais próximos as dores do mundo é insanidade (também para o senso comum). Pondero, porém, que a pergunta (que me faço constantemente) é ‘como estou contribuindo para que o mundo (que são as pessoas) seja menos bárbaro?’ Ou ainda: como estou contribuindo para que ele seja mais bárbaro do que já é?

E é nesta perspectiva que me incomoda a relação da felicidade (satisfação) com as situações da realidade possibilitadas por meio da alienação.

Ou seja, (para mim), tenho duas possibilidades para ‘estar de bem com a vida’ – que muitos entendem como felicidade, que eu concebo como satisfação – frente a realidade:

a) Posso entender que somos humanos e civilizados, reconhecendo que existem conflitos situados que precisam avançar em direção à humanização-civilização. Esta situação ao mesmo tempo em que me afeta – por isso eu rezo pelas pessoas que sofrem ao redor do mundo e, quando posso ajudo materialmente – me permite transcender a realidade alheia e me constituir sujeito de mim mesmo e contribuinte, antes de tudo e de todos os demais, da ‘felicidade’ do meu entorno. Essa concepção é louvável e é aceita como correta. Porém, ela permite a pergunta: será que eu não poderia contribuir mais para a felicidade das pessoas do mundo inteiro?

b) Posso pensar que as situações e realidades distantes da minha não devem me influenciar de forma que afetam a minha autoestima, a minha vida e que, portanto, a ‘felicidade’ é possível (deve ser) mesmo que algumas pessoas (são milhões de ‘algumas’) sofram para manter a sua vida e a dos seus mais amados. Este também é um pensamento bastante aceito socialmente. Ele me permite sorrir, cantar e expressar estados de ‘felicidade’ enquanto a casa do vizinho está em chamas com seus filhos queimando juntos, literalmente (Vizinho (o próximo) virou ou está virando abstração na sociedade atual). Permite-me, igualmente, – e isso é considerado saudável – desligar dos problemas do mundo e me situar no meu mundo (princípio da individualização do pensamento sobre si mesmo como indivíduo). Desconectar da realidade humana como dimensão planetária é uma possibilidade de ser ‘feliz’, pois se eu não tomo conhecimento dos problemas do mundo eles não me afetam e eu tenho mais chances de me curtir. E... como já diz o adágio: “não se peca por ignorância”.

Assim, que sejamos ‘felizes’ por meio da alienação!