SENTIDOS NO TEMPO
SENTIDOS NO TEMPO
O tempo passou relativamente despercebido, e agora vai caindo a ficha. Percebo que meus olhos já não enxergam tão bem, seja perto, seja longe, em compensação minha visão de vida nunca esteve tão clara e nítida. Ouvir, já não ouço adequadamente, mas não olvido as lições que, diariamente e atentamente escuto, de correntes diversas de pensamento e convicções, e arrependo-me muito de minha arrogância infantil de outrora. Hoje já não sinto tantos cheiros, desfruto de aromas e procuro valorizá-los ao máximo, e quanto mais simples se mostram parecem mais envolventes, o aroma de um café na manhã, um rasto de perfume, aquele cheirinho de nenê, a fragrância da mulher amada, a olência da chuva após a seca. O tato agora é suave, sem os arroubos da paixão, mas muito mais sensíveis e carinhosos, sem dúvida, com um toque maior de humanidade. Sabores, renovam-se em experiências degustativas sem preconceito, aprendi a provar antes de relutar, não me deixando envolver por aspectos ou opiniões de outrem. Enfim, estou renascendo em outra dimensão, muito mais tranquilo, calmo, sem correrias desenfreadas na busca de reconhecimento ou paga, e curtindo a velhice, com algumas dores, mas com muitos prazeres, que outrora não sentia, na minha ablepsia do que era viver.